Pacto de Moncloa:
vamos revigorar o crescimento?
Em 1977, Felipe González , 1o Ministro de
Espanha, disse: “Cabe aos governantes ter mais velocidade do que a sociedade.
Devem correr na frente e preparar os caminhos que vão propiciar qualidade de
vida à essa mesma sociedade.” (Pacto de Moncloa, outubro de 1977).
Como decorrência do Pacto de Moncloa, houve um surto de
desenvolvimento e melhoria de qualidade de vida que foi muito significativo. A
Espanha que estava classificada em 25o lugar no ranking mundial das
economias, em apenas 30 anos, chegou ao 8o lugar.
Enquanto isso, no Brasil, com PIB muito abaixo das
expectativas, economia industrial retrocedendo 3 anos, apenas 48a
posição no ranking dos países mais competitivos, governo caro, muito lento, sem
capacidade de realização, burocrata, confuso e hesitante, inflação retornando, terminamos
de forma melancólica o ano de 2012 e iniciamos o ano de 2013 com muitos pontos
de interrogação.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo, entre os países
da América Latina, em termos de crescimento no período 2011-2012, ficamos
apenas à frente do Paraguai. É bom lembrar também que com toda a crise
instalada na Europa e Estados Unidos, a indústria na Letônia, Países Bálticos,
cresceu 10% e diversos outros países cresceram acima de 5% - Fonte O Estado de
São Paulo. E nós?
Enquanto outros países são mais competitivos por que os
governantes fazem o necessário para tanto, e não simplesmente implantam
projetos partidários, estamos sofrendo um violento processo de
desindustrialização,temos crise por todo lado, assumimos ônus político
eleitoral pela aventura de nos comprometermos com a Copa do Mundo de Futebol e logo
em seguida Jogos Olímpicos. Lembrando o General Charles de Gaulle, aventura
séria para país rico, organizado, estável e maduro, que sabe o que quer e para
onde vai, e não para país pobre, desestruturado, que não sabe para onde quer ir.
Nossa vida empresarial está cada vez mais complicada. Os
rituais de pagamento de impostos continuam em um crescendo confuso de mais
regras, mais custos administrativos, mais exigências e mais multas e
penalidades. A sociedade empresarial é tratada como criança que merece
corretivos. Não cabe esse tratamento!
Entendo que chegou um momento em que cada um de nós precisa
buscar um novo posicionamento de vida, trabalho e cidadania e trabalhar para
depender muito menos de outros, para sustentar nossa presença no mercado e
nossa condição competitiva. Precisamos de diversos Pactos de Moncloa nos nossos
ambientes empresariais. Reviver Fóruns que já foram importantes no passado.
Pergunta: acreditamos no quê? O que queremos ser? Que país
queremos, para daqui a 10, 20 e 30 anos? O que vamos deixar para aqueles que têm
família, filhos e herdeiros? Outra questão, ‘que país queremos para nossos
filhos’, ou ‘como devem ser nossos filhos para eles fazerem o país melhor para
si’?
Não importa o que se queira ser, quais objetivos. Para
chegar lá precisamos ser mais competitivos e mais sincronizados. Este é o motor
propulsor que faz economias vencedoras andar para a frente, e não andarde lado
e para trás como tem acontecido conosco.
Competitividade não é algo que governos nos dão. Temos que
nos conscientizar que as respostas e soluções que precisamos não serão dadas
por governantes. Eles sempre vão precisar de nossa ajuda para que se construa o
país que queremos.
Competitividade é algo que se constrói por meio de cadeias
de coerência, conhecimento do funcionamento dos mercados, visão estratégica, lógica,
bom senso, que precisam ser estabelecidas com muito trabalho e “capacidade de
entrega”.Essa lógica não costuma ser de governos. Eles sempre têm grandes
dificuldades com essa fundamental sincronia de questões.O lado político sempre
atrapalha.
Além de falarmos construir a competitividade de empresas,precisamos
construir a competitividade de infraestrutura,conhecimento aplicado,sistemas de
ensino,de territórios, de cadeias produtivas, saúde, meios de transporte, de
logística, tudo interligado entre si. Precisamos aprender a costurar o bom enlace
competitivo que envolve todas essas questões.
De que adianta termos sol e água para prover a produção da
terra, para com isso sermos grandes exportadores, se não temos canais
navegáveis, eclusas nas barragens, ferrovias e portos competitivos? De que
forma estamos tratando a questão da competitividade da produção da terra como
um projeto de uma nação que quer evoluir?
A orientação oficial e a postura vigente estão causando um
violento processo de desindustrialização. De uma certa forma é o que está nos
salvando de uma grave crise de escassez de energia elétrica. Sabemos o que
precisamos fazer, para enfrentar concorrentes internacionais no Brasil e nos
mercados de exportação.
A última vez que tive a oportunidade de ver,em Brasília,
plano para uma política industrial brasileira, que não foi implantado, foi em
meados da década dos anos 80. Desde então ficamos discutindo pequenas coisas, o
cosmético, o epidérmico, o político, o inócuo, a maior ou menor abertura do
mercado, o que é apenas uma pequena parte do necessário debate do todo.
Entra aqui uma questão que reputo fundamental. Em que medida
nossos empresários estão sabendo conversar entre si para estabelecer um
verdadeiro roteiro de construção de um novo Brasil e uma nova competitividade?
Em que medida esse roteiro está sendo devidamente construído, sem que se entre
no jogo da presença predominante do governo e seus interesses políticos e eleitoreiros
de curtíssimo prazo?
Em que medida precisamos inverter o jogo, em vez de passar
nossa vida atendendo as exigências de governo, de entidades de regulação e
controle, que vão se acumulando, não passamos nós a fazer as tão necessárias e
profundas exigências ao governo?
Em que medida precisamos dar um basta à reuniões improdutivas,
que não levam à nada,por falta dese entrar com propostas mais estruturadas e
completas? Busca necessária da perfeição?
O congressista americano Ron Paul escreveu um livro, “Liberty
Defined” que acabou de ser traduzido para o português e deverá ser editado
brevemente. É preciso que esse livro seja lido por todos. Ele nos lembra que, contrariamente
ao que muitos pensam,governos devem estar a serviço do cidadão e que cidadãosnão
devem estar a serviço de governos.Eles colaboram com governos. É outra coisa. Bons
cidadãos podem estar a serviços de governos, desde que sejam bons governos, que
realmente tenham interesse pelo bem estar da sociedade e
não busquem projetos de poder pela simples busca da perpetuação no poder.
História que sempre se repete pelo mundo todo.
O início dessa caminhada chama pela necessidade de cada
setor empresarial brasileiro passar por uma revisão estratégica, não com visões
de defesa, proteção e crescimento como sempre foi, mas com visão de
competitividade e capitalização. Os diferentes setores devem criar os marcos
que se sucederão no caminho da construção da competitividade. Pactos de Moncloa
setoriais. Fóruns setoriais.
Empresários mais interessados, experientes, poderão montar
grupos de interesse estratégico, reviver Fóruns que já existiram no passado, como
sempre existiu em tantos territórios e
países. A partir dessas iniciativas, estabelecer novos padrões de diálogo com
os diferentes governos. Discutir o que queremos, não o que governantes acham
que devem nos dar!
Temos aqui uma chamada bem forte: empresários precisam definir
objetivos, cronogramas, responsáveis, fontes de recursos, resultados esperados
etc. O que é normal em muitos países que se fazem respeitar.
Quem quer começar?
5 comentários:
Excelente post!
Acredito que a melhor forma de começar seria com um grupo organizado que possa realizar algum tipo de cobrança rígida a algum parlamentar de caráter !
Sr. Luiz Ferreira: há grupos de políticos interessados nessa linha em Petrópolis e Vitória e Rio de Janeiro. Em SP, Instituto Mises também tem trabalhado há anos no mesmo sentido. Parece que, como diz o Bersou, a causa mais profunda parece mais com agentes econômicos imediatistas e surfadores (como o tratamento com morfina), sem refletirem corajosamente sobre a realidade, e sem arregaçar a manga e assumir as dores do parto, mesmo sabendo que estão se furtando de cortar o pavio aceso da bomba sobre a qual estão sentados. Quanto aos políticos, entre os quais deveria estar aquele ao qual você se refere, todos vão muito bem-obrigado. E então?
Gostei muito.
Vou divulgar!
Alguém deveria perguntar a Felipe González o que ele acha da Espanha de hoje com cerca de 30% de desemprego, devido às políticas neoliberais implementadas por ele décadas atrás.
Os neoliberais acham que com uma varinha mágica é possível fazer políticas sociais e gerar emprego.
Os exemplos dados no texto são todos de uma política falida.
Sr. Amadeu Leite Furtado.
Conheci uma Espanha muito pobre. Trabalhei em uma Espanha já bem rica.
O que fez isso foi o Pacto de Moncloa e muito trabalho.
Trabalho produz riqueza. Roma começou, em parte, a se desintegrar por que já estava rica demais.
O mesmo aconteceu com outras sociedades.
Em palestra recente no Conselho de Administração de São Paulo comentei que sociedades de consumo consomem, e não pesam, não agem e não lutam.
O consumo anestesia e inebria.
O que vejo na Espanha está mais para essa questão. Felipe Gonzales fez o trabalho dele. A qualidade do que veio depois foi função dos novos cidadãos.
Acrescente-se a isso que tanto Portugal como Espanha sempre tiveram a cultura de imobilizar riqueza. Riqueza imobilizada não produz riqueza. Razões históricas.
Outro fato: há trabalho na Espanha. Não há vontade dos empresários em dar emprego. Nisso o senhor tem razão. São tantas benesses que é um risco dar emprego.
Luiz Bersou
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