24 de abril de 2013

Os grandes projetos do passado e o Brasil de agora


Lembro de um momento, na década dos anos 60, em que se construía 11.000 km de estradas por ano. Lembro de quantas barragens em construção visitei, que logo em seguida foram transformadas em hidroelétricas importantes, gerando energia elétrica para o progresso do país.

Lembro ainda do tempo em que se esperava 8 anos para conseguir uma linha telefônica, nunca esqueci o número pelo qual esperamos tanto tempo, e o momento em que foi dito que o sistema brasileiro de telefonia estava se aproximando pouco a pouco do desempenho do sistema francês. Lembro do momento em que guindastes de porto no nordeste não suportavam mais do que 13 toneladas. Ainda está muito ruim, mas houve trabalho.

Um conjunto de brasileiros ilustres participou dos grandes projetos nacionais, fizeram acontecer, cumpriram prazos, fizeram a “Entrega” do que tinha sido contratado. Alguns deles já não estão mais entre nós, mas muitos continuam trabalhando até 16 horas por dia. São homens de outra geração. Outro vigor. Outro sentimento de cidadania. Um exemplo do passado para os atuais governantes e políticos.

Em um pais sem capital, sem recursos, criaram esses grandes projetos que tinham como característica importante a poupança forçada.Em outros momentos, o conceito de poupança forçada para projetos de saúde virou piada. Faltou o respeito do governo à proposta que tinha sido aprovada. Tudo mudou.

Costumo dizer em palestras que se Brasília fosse construída no momento atual, levaria mais de 100 anos para ficar pronta. Custaria uma fortuna que a inviabilizaria. Nunca ficaria pronta.

O povo brasileiro que teve no passado potencial para construir o país, abdicou dessa força que o caracterizou em outras épocas.Por conta dessa situação, o país está sem Planos Estratégicos. O único plano que existe no momento atual é o plano para ganhar as eleições de 2014.

Criamos uma falsa democracia pela qual o país, cada um de nós, está entregando a cada dia que passa a sua liberdade. Os governantes conseguiram entrar nos meandros mais ínfimos e íntimos do funcionamento de nossa sociedade e interferem em tudo. Controlam tudo. Somos reféns e trabalhamos para o Estado. Pagamos para que eles cada dia que passa nos controlem ainda mais. Não são eles que trabalham para nós e fazem o que precisa ser feito.

O que está acontecendo é algo de absoluto desrespeito ao povo. O jogo atual, onde tudo é voltado a ganhar as eleições é uma traição ao país. Não serão esse governo e os atuais partidos políticos, que vão construir o país que desejamos. Não podemos mais contar com eles.

Para agravar a situação, os governantes estão sem interlocutores de oposição. Todos são cumplices. Fazem o que bem entendem. Como não há competência, fazem o pior. Tudo errado. Quantas vezes vimos investidores hesitantes, dado o descalabro das palavras dos nossos governantes?

Que alternativas temos então? No momento atual, somente reforçando as entidades representativas empresariais teremos capacidade de voltar a construir os grandes planos estratégicos do passado. São as forças naturais e livres que sobraram. Sem tutela de estado.

Essas entidades representam uma força técnica, de conhecimento e política que hoje trabalham em temas que podem ser potenciados. Sair da defesa dos interesses individuais de cada um e ir para o grande jogo de reconstruir um país que está se desestruturando.

Essa tarefa é urgente. Não pode ser mais postergada. Os líderes empresariais precisam construir um pacto para que nosso país deixe de ser objeto de um projeto de poder continuísta, em que o que somente interessa é poder e mais poder. A continuar nessa toada, eles ganham poder e cada um de nós perde a liberdade que se esvai a cada dia.

É bom lembrar que Cuba é uma referência para os políticos que sonham com projetos de poder. A exemplo do que acontece lá, muitos de nós já não sabem mais o que é democracia verdadeira e liberdade. A esse respeito, sugiro que leiam o livro Liberty Defined, de Ron Paul. Ele vai nos permitir perceber o quanto estamos perdendo em termos de liberdade.

“O descontentamento é o primeiro passo para a evolução de um homem ou uma nação”. Oscar Wilde.

Acorda Brasil!

Luiz Bersou


20 de março de 2013

Processo agudo de desindustrialização em curso - Onde essa tendência vai parar?


O que era evidenciado por sinais tênues, é hoje em dia uma tendência marcante. Agrava essa tendência a evidente hesitação dos investidores. Há um sentimento de não se acreditar mais na indústria do Brasil.

Conversando recentemente com importante industrial de Ribeirão Preto, ele disse: vou fechar as fábricas, vou ficar somente na importação e comercialização. Outro industrial de São Paulo tinha 5 fábricas. Hoje apenas presta assistência técnica aos produtos importados que vende aqui. Quantas vezes já ouvi essa afirmação? Já perdi a conta. A tendência é muito forte.

Um efeito perverso é a perda de base tecnológica. Que os outros estão ganhando. O governo reclama da falta de inovação. Como tratar dessa questão em um ambiente de perda tecnológica? As questões de base estão muito abaixo do nível por onde circula o pensamento governamental.

Ciclos econômicos curtos e ciclos econômicos longos
Países pobres como o Brasil, onde há evidente falta de capital a serviço da sociedade, precisam de ciclos econômicos curtos.

Há no Brasil toda uma história de ciclos econômicos longos. Exemplo, pecuária, espera-se mais de dois anos para se abater o boi, em muitos tipos de produção na agricultura, café por exemplo, anos para fazer a primeira colheita e colheita uma vez por ano. Na construção civil, construímos prédios que representam um enorme capital imobilizado, que ao longo de sua vida dão emprego para um zelador, um faxineiro e um porteiro. Aproveitamento social muito baixo do capital.

Na indústria em particular, vendemos, compramos, produzimos e entregamos em ciclos de tempo muito mais rápidos. Com frequência em um a dois meses. A realização do lucro é rápida. São os ciclos econômicos curtos, demandam menos capital para fazer a operação. Todos os países precisam de ciclos curtos, em particular os ciclos industriais. Países como o Brasil precisam ainda mais, dada a já mencionada carência de recursos na sociedade que trabalha.

Questão característica da indústria, ela dá espaço para a inovação, para acionar a nossa capacidade de construir coisas. Gera trabalho. Por consequência, gera emprego. Deveria ser prioridade!

O peso Governo Brasil na indústria brasileira
O governo impõe ao industrial brasileiro cada vez mais exigências, regras, taxas, impostos, restrições de todo tipo. Algo muito grave, impõe muita perda de tempo. Transforma o ciclo longo em ciclo lento pelo peso da burocracia. O industrial brasileiro passa com o pires na mão por “n”burocracias, cada uma completamente alienada do que exige a outra. Exigências conflitantes são frequentes.

O “Marco Regulatório” é oscilante e governado por portarias. Qualquer burocrata de governo cria o empecilho ao desenvolvimento de que mais gosta, que é aquele da sua especialidade. Não temos o governo como aliado dos industriais, temos o governo como um bedel infantil que tudo restringe e tudo proíbe. Há uma visão operacional pequena, não há uma visão estratégica grande.

Se adotarmos o pensamento de que o Raciocínio Estratégico existe justamente para alinhar e facilitar caminhos em direção a determinados objetivos, percebemos que tudo o que faz o Governo Brasileiro, é o anti estratégico. Dificuldades no lugar do relacionamento consistente, estruturado e positivo.

O mais grave de tudo isso, é que o empresário brasileiro, em vez de direcionar suas energias para a construção do futuro e desenvolvimento da sua empresa, que é também o futuro do Brasil, direciona as suas energias para a complexidade infernal que os governos se encarregam de descarregar nas suas costas. Que ele aceita!

Não é de se espantar com a constatação frequente que fazemos atualmente: o número de empresários que apenas esperam uma oportunidade para vender sua empresa e se livrar desse abacaxi.

Não é assim que se constrói um país.

A média e pequena empresa com conteúdo tecnológico no cenário competitivo mundial
Sabemos que em todos países as grandes empresas tem seu papel importante nos mecanismos de força que circulam pela sociedade. São importantes, mas raramente dão os empregos que a sociedade precisa. Operam com ativos tecnológicos restritos aos contextos econômicos de seu interesse. O mais importante, por exemplo, a indústria automobilística não faz um país. É preciso muito mais.

Construir uma base bem numerosa de empresas médias e pequenas, com conteúdo tecnológico que contemple uma gama mais completa de interesses da sociedade, é um raciocínio absolutamente estratégico. Essas empresas precisam ter massa crítica mínima para fazer a inovação incremental do seu conteúdo tecnológico.

Muitos países que direcionaram políticas de governo para o estímulo da média e pequena empresa tiveram grandes ganhos sociais por conta dessa iniciativa. A riqueza foi produzida e se disseminou. Todos ganharam. Em particular, ganhou a inovação. É interessante observar que muito do que os americanos apresentem hoje em dia, tem suas origens em algum pequeno empreendedor. Lá existe quem o entenda e quem o apoie.

Os recursos disponíveis para oxigenar as médias e pequenas empresas
Tivemos outro dia a oportunidade de navegar pelos portais que fazem o mapa de recursos disponíveis no mercado interno. O Brasil ao longo dos anos direcionou muita oferta de recursos para as empresas com propostas de desenvolvimento de conteúdo tecnológico. Toda essa oferta está em um emaranhado de exigências sem fim. A burocracia tolhe o valor da proposta inicial.

Cabe aqui uma revisão do Marco Regulatório, de forma que toda origem de recursos, federais, estaduais e municipais transitem pelas mesmas regras e exigências. Essa revisão nunca será feita pela burocracia instalada nos diferentes níveis de governo. É o que justifica a sua existência.

Cabe então um chamado às classes empresariais em suas diferentes associações.Novos objetivos para essas entidades. Todos os bons cidadãos têm interesse que a dinâmica do mercado das empresas com conteúdo tecnológico se desenvolva. Novos negócios, novas tecnologias, novos mercados, mercados internacionais. Toda grande empresa precisa de outras empresas, médias e pequenas. Cada um precisa do outro, nessa malha que representa o novo estado das cadeias de valor, que são os campos de valor.

O posicionamento das entidades financeiras e as empresas
Aqui entra outra questão que precisa ser revista. Pagamos “spreads” altíssimos. Dos maiores do mundo. Porque eles são tão elevados? Temos que considerar primeiramente que bancos que tem governos para os quais podem emprestar muito dinheiro sem riscos, terão sempre como prioridade o governo e não as necessidades da sociedade.
Somos uma sociedade, onde se incluem os bancos, formalista, patrimonialista, paternalista e avessa ao negócio, ao risco. Os bancos emprestam dinheiro para empresas que pouco conhecem, não sabem da exata qualidade do negócio, da evolução da condição de risco, tudo isso por que analisam as empresas segundo documentos extremamente formais, que não interpretam a dinâmica e a alma da empresa. E por que emprestam? Por que o spread resolve qualquer questão! Por que dedicar tempo a analisar empresas e os seus negócios, se o spread cobre os meus riscos?

Em particular em relação às entidades de fomento, enquanto as análises não forem muito mais profundas e consistentes, assumindo dessa forma spreads muito menores, apenas estaremos fingindo que financiamentos o crescimento do Brasil. Mais uma vez uma chamada às classes empresariais para assumirem novos objetivos em suas associações.

As incubadoras – a possibilidade de recuperação da base tecnológica
Já tivemos oportunidade de visitar incubadoras em diversos países. Também no Brasil. A proposta é a mais nobre possível. A expressão “incubadora” tem o significado de que alguém cuida de alguém e contribui para a sua evolução e qualidade de vida.

No Brasil percebemos a enorme distância que existe entre as empresas incubadas e as entidades que deveriam ter propostas de orientação tecnológica, estratégica, comercial, operacional e de gestão. Por que mencionamos enorme distância? A razão é que essas entidades existem mas não chegam nas empresas. Incubadoras no Brasil tem outro significado. Está muito mais para um hotel onde as empresas compartilham espaços, na base de cada um por si, do que uma verdadeira incubadora no sentido lato da palavra.

Aqui mais uma vez renovamos uma proposta já apresentada para algumas entidades. Por que não se criam mecanismos de apoio às empresas associadas dentro das próprias associações? Foi com essa visão que entidades que existem há séculos renovaram as competências profissionais dos seus participantes. A história conta.

Luiz Bersou

26 de fevereiro de 2013

Brasil - País das Instituições com prazo de validade vencido


As instituições que representam a vida de uma Nação
Tudo o que funciona em um país, acontece por conta das Instituições que estão estabelecidas. Do lado governo temos o congresso, o executivo, as instituições de governança, as empresas públicas, a justiça, o sistema de saúde e ensino e assim por diante.

Do lado privado temos tudo que é fruto da iniciativa privada, as empresas, as escolas, os sistemas de saúde e tudo o mais que pode se desenvolver com mais ou menos vigor, em função dos mecanismos de restrição e regulação que as entidades de governo colocam em funcionamento.

A curva de vida e o prazo de validade
Tudo o que é criado vive segundo uma “Curva de Vida”. Nasce, cresce, amadurece, fenece e morre. É normal, é da natureza dos homens e das coisas. Um automóvel tem sua curva de vida. Uma casa idem. Pessoas,escolas, universidades, também. Até igrejas passam por esses inexoráveis ciclos de transformação.

Países inteiros passam pelo mesmo ciclo de vida e transformação. Todos estão condenados ao ciclo de transformação. O que acontece com países, acontece com empresas, com empresários, com governantes e governados. Tudo tem começo, meio e fim.

O fato concreto é que Instituições que os homens criam, passam sempre e necessariamente pelo mesmo ciclo de vida e transformações, envelhecimento e morte.

A revitalização e o rejuvenescimento
Assim como a Fênix que ressurge das cinzas, muitos fazem do ciclo de vida e transformação, a ferramenta para a sua revitalização, o seu rejuvenescimento e o seu retorno à luta e à vida.

Temos exemplos de negócios que se mantém vivos, preservando suas características desde os anos 1.400 (Zaragoza, Espanha) . A Universidade de Grenoble vem dos anos 1.200. Conheci empresas com histórico de 700 anos (Japão). Empresas com 200 anos de vida, 150 anos, 100 anos tem muitas por aí. No Brasil conheci duas com mais de 100 anos.

Vem então a pergunta: o que é perene e o que não é perene nos ciclos de vida e transformação?

Como resposta vamos ao caso famoso, do dono de uma importante empresa japonesa, que montou antes de morrer um plano de estratégico para 250 anos. Passaram-se mais de 70 anos e o plano está valendo. Qual a razão desse sucesso, dessa manutenção no tempo do valor da proposta? Os fundamentos filosóficos que ele estabeleceu para a empresa. Quando da crise de 2008, foi uma das empresas que sofreram menos no Japão.

Filosofia como fundamento de vida
Quando os “Fundadores” escreveram a Constituição Americana, criaram uma referencia de valores humanos extremamente forte. O historiador Gordon Wood escreve que os Estados Unidos nasceram como a nação dos que acreditam nos seus fundamentos. O cidadão americano não o é por que nasceu nos Estados Unidos, mas o é por que acredita nas ideias que permeavam a Constituição Americana.

A estruturação do governo americano, a partir da 2a guerra mundial e como decorrência da Guerra Fria, prejudicou muito esse conjunto de crenças, com a burocracia disputando espaço com a filosofia. A filosofia perdeu muito, mas muita coisa boa está lá, intocada.
No caso brasileiro, no caso da Constituição do Brasil, no que acreditamos? Uma constituição fundamentada em direitos e deveres? Controladora? A serviço de governos? Quais princípios, quais fundamentos?

O Caso Brasileiro
Nascido como mera colônia de um pais com registros históricos marcantes de fechamento de escolas e analfabetismo estarrecedor de sua população, onde o mais importante era obedecer aos senhores, fomos aceitando uma enorme série de regras, mandos, desmandos, marcos regulatórios que permeiam a nossa vida e nos faz ser um dos países mais caros e lentos do mundo. Somos caros, lentos e somos pobres.

Essa herança quase genética está presente até hoje na vida social, familiar, na vida das instituições publicas e tudo aquilo que representa as relações com os estamentos do poder.

Aceitar o poder das instituições, aceitar o seu envelhecimento e aceitar viver submisso a elas faz parte do nosso dia a dia. Convivemos com uma enorme série de instituições que envelheceram, não se renovaram e perderam assim o seu prazo de validade. Apenas servem para manter o país andando a passos de tartaruga sem rumo por aí.

Diferentemente dos que percebem a atrofia e lutam pela modernização, é característica brasileira a manutenção do “status quo”, como algo mais plausível e razoável nos governos, nas entidades de representação e nas empresas. Temos um comodismo histórico. Nada deve mudar, para que nada mude. A democracia a serviço do poder, em troca da liberdade original da qual todos viemos (Ron Paul, Liberty Defined).

O momento que vivemos
Com efeito, vivemos um momento marcante. Nossas escolas estão obsoletas. A gestão de nossas empresas é obsoleta. Nossas infra estruturas estão obsoletas, os governantes são obsoletos, as estruturas de governo são obsoletas e nós, governados, somos obsoletos também.Abrimos mão da liberdade primal de Ron Paul. Somos obsoletos e lentos. Tudo devagar, quase parando. Nascidos em berço esplêndido, e por isso mesmo, sempre adormecidos.

Os riscos do Momento Presente
Estamos sofrendo um processo violento de desindustrialização. As médias e pequenas empresas convivem com elevadas taxas de mortalidade. Precisamos da indústria. Ela nos dá ciclos econômicos curtos que consomem menos capital de giro e nos ensinam a construir.

Sinais negativos, apesar de todas as falas dos governantes estão por toda parte. Estamos em um momento em que o governo anuncia recordes de arrecadação de impostos em cima de um país que não anda. Só promessas. Como sempre foi. Vivemos uma história da Carochinha. E acreditamos.

A reversão do Momento Presente
Está claro que a experiência brasileira com liderança políticas deixa muito a desejar. Entidades que restam e ainda permitem o debate e a construção de propostas são hoje em dia somente as entidades de representação de empresas, justamente as mais sacrificadas pelo modo de atuação dos governos.

A reversão do prazo de validade de nossas instituições precisa partir da base empresarial. O empresário precisa se manifestar. Afinal é ele que paga as maior parte das contas.



Sabemos o que dizer do palanque, não sabemos o que fazer na prática

Na maior parte dos países mais desenvolvidos, verificamos que ao andar das mudanças de governo, muito pouco se mexe nas suas estruturas. São estruturas profissionais, técnicas, não são estruturas políticas.

Por serem estruturas profissionais, técnicas, elas evoluem e se modernizam. Existem critérios de governança para a busca dos desempenhos necessários. Todas têm como objetivo o atendimento às necessidades do cidadão. O cidadão é o cliente. Cliente é rei.

Quando as estruturas têm caráter político, como claramente é o caso brasileiro, o que temos é uma luta permanente pela preservação dos cargos e do poder. As instituições passam a atender os interesses de quem as ocupam, e nessa condição a função vital é invertida. É o cidadão que está a serviço do governo, e não o governo que está a serviço do cidadão. Os esforços de desburocratização sempre morrem pelo mesmo motivo. Criar dificuldades para vender facilidades.

Como ficam nossos empresários nesse mundo todo?

Luiz Bersou



29 de janeiro de 2013

LUCIDEZ - Base necessária da Estratégia de Implantação de um novo Brasil


Inquisições: Desde o ano de 1.180, temos registros na Europa, da disseminação e proliferação das Inquisições. Em diferentes formatos e consequências, esse fenômeno se apresentou até além do ano 1.800. Foi todo um esforço para manter hegemonia de poder, seja pela igreja, seja pelos estados que davam suporte.

Hegemonia do poder: esta questão era colocada de forma muito simples: aceita e obedece ou é herege, condição para a qual valia a tortura e a pena de morte. Muito foi escrito a respeito. Muito pouco foi contestado.

O Fato Novo:Um dos mais importantes acontecimentos que começaram a derrubar essa hegemonia foram as atitudes e procedimentos de Lutero. Ao incentivar a leitura da Bíblia, ao traduzir a Bíblia para o alemão, ele criou uma explosão de interesses.

O aprendizado da escrita e da leitura levou ao que hoje chamamos de “Conhecimento”. Desse “Conhecimento vieram muita ciência, inovação, poder político e militar e riquezas”.

Lutero foi uma das figuras magníficas da sua época, que despertou a sociedade de um apagão intelectual. Começou a injetar a contestação, o debate e disso tudo, a lucidez do progresso intelectual, político e econômico.“Sem a boa luta não há consolidação dos princípios da sociedade – Esdras Borges Costa”.Não cabe a ideologia e nem a obediência.

No período mencionado, tivemos também nos diversos países, movimentos de ascensão e queda de poder. O poder sempre precisou de recursos, em geral cobrava o que o povo podia pagar. Dessa forma tinha sempre interesse em não matar o progresso econômico de seus súditos.

De qualquer forma foi se estabelecendo na população a noção dos direitos próprios dos estados e das populações. O Estado passou a ter interesse vital no progresso da nação. Regras de convivência foram sendo desenvolvidas / impostas entre os grupos sociais e isso acontece até hoje.

O papel do Estado: Ao longo dos séculos, com referências desde o ano 1.140, na Inglaterra, para se defender do poder do estado e da igreja, tivemos a formação das Corporações de Trabalho, que hoje são as entidades de classe e sindicatos. Mais tarde nasceram as câmaras de representação popular e em seguida as câmaras de representação e negociação com o poder central.

Durante séculos, essa evolução passou pela discussão do papel do Estado diante da sociedade. A Lógica do Papel do Estado acabou se convertendo na Lógica Estratégica da Nação.

A lógica das Corporações de Trabalho: Sendo o esteio da produção econômica do território, as Corporações de Trabalho sempre tiveram uma importância vital. Papel importante em frenar o apetite fiscal sobre o trabalho e a produção, mas mais do que isso, a organização do trabalho acabou influindo na organização dos governos e territórios e foi papel importante em despertar no estado a percepção da importância da produção.

No Brasil, percebemos há anos que o peso do Estado aumenta, os impostos aumentam e a produção  e o investimento diminuem. Tudo isso porque há um raciocínio perverso pelo qual o Estado é mais importante do que a produção. Um absurdo.Ron Paul, em seu livro Liberty Defined, trata essa questão como perda de liberdade. Ele tem toda razão.


Percebemos em muitos casos que as antigas Corporações de Trabalho, pelo cerceamento de sua liberdade esqueceram a sua importância histórica e o poder e o direito que têm de defender a condição competitiva de seus associados. Houve uma evidência de submissão política e intelectual aos interesses do estado que foi se agravando dia a dia. Deixou de existir liberdade.

Interesses de curto prazo atrasam o país: Esse tipo de involução tem acontecido porque as Corporações de Trabalho entraram no jogo do interesse de curto prazo. Entraram no jogo da proteção de interesses e esqueceram que a melhor e maior proteção é a potência competitiva de todos e de cada um. A competência competitiva de todos e de cada um é a melhor arma para o progresso.

A questão da formatação estratégica da relação entre poder e trabalho perdeu conteúdo e lucidez.Pela sua posição e papel no cenário socioeconômico, parece claro que cabe aos empresários corrigirem a distorção que caracteriza essa situação.

Conclamação à ação: Precisamos de fatos novos. Essa reação passa por nossa proposta de que cada entidade representativa faça um repensar estratégico e trabalhe na busca da competitividade com a lucidez estratégica que está faltando nesse momento, defina os princípios e a base da competitividade de cada setor, e crie seu projeto de construção da competitividade.

Luiz Bersou




15 de janeiro de 2013

O atraso de nosso país: nos resignamos ou nos indignamos?


Pacto de Moncloa: vamos revigorar o crescimento?

Em 1977, Felipe González , 1o Ministro de Espanha, disse: “Cabe aos governantes ter mais velocidade do que a sociedade. Devem correr na frente e preparar os caminhos que vão propiciar qualidade de vida à essa mesma sociedade.” (Pacto de Moncloa, outubro de 1977).

Como decorrência do Pacto de Moncloa, houve um surto de desenvolvimento e melhoria de qualidade de vida que foi muito significativo. A Espanha que estava classificada em 25o lugar no ranking mundial das economias, em apenas 30 anos, chegou ao 8o lugar.

Enquanto isso, no Brasil, com PIB muito abaixo das expectativas, economia industrial retrocedendo 3 anos, apenas 48a posição no ranking dos países mais competitivos, governo caro, muito lento, sem capacidade de realização, burocrata, confuso e hesitante, inflação retornando, terminamos de forma melancólica o ano de 2012 e iniciamos o ano de 2013 com muitos pontos de interrogação.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, entre os países da América Latina, em termos de crescimento no período 2011-2012, ficamos apenas à frente do Paraguai. É bom lembrar também que com toda a crise instalada na Europa e Estados Unidos, a indústria na Letônia, Países Bálticos, cresceu 10% e diversos outros países cresceram acima de 5% - Fonte O Estado de São Paulo. E nós?

Enquanto outros países são mais competitivos por que os governantes fazem o necessário para tanto, e não simplesmente implantam projetos partidários, estamos sofrendo um violento processo de desindustrialização,temos crise por todo lado, assumimos ônus político eleitoral pela aventura de nos comprometermos com a Copa do Mundo de Futebol e logo em seguida Jogos Olímpicos. Lembrando o General Charles de Gaulle, aventura séria para país rico, organizado, estável e maduro, que sabe o que quer e para onde vai, e não para país pobre, desestruturado, que não sabe para onde quer ir.

Nossa vida empresarial está cada vez mais complicada. Os rituais de pagamento de impostos continuam em um crescendo confuso de mais regras, mais custos administrativos, mais exigências e mais multas e penalidades. A sociedade empresarial é tratada como criança que merece corretivos. Não cabe esse tratamento!

Entendo que chegou um momento em que cada um de nós precisa buscar um novo posicionamento de vida, trabalho e cidadania e trabalhar para depender muito menos de outros, para sustentar nossa presença no mercado e nossa condição competitiva. Precisamos de diversos Pactos de Moncloa nos nossos ambientes empresariais. Reviver Fóruns que já foram importantes no passado.

Pergunta: acreditamos no quê? O que queremos ser? Que país queremos, para daqui a 10, 20 e 30 anos? O que vamos deixar para aqueles que têm família, filhos e herdeiros? Outra questão, ‘que país queremos para nossos filhos’, ou ‘como devem ser nossos filhos para eles fazerem o país melhor para si’?

Não importa o que se queira ser, quais objetivos. Para chegar lá precisamos ser mais competitivos e mais sincronizados. Este é o motor propulsor que faz economias vencedoras andar para a frente, e não andarde lado e para trás como tem acontecido conosco.

Competitividade não é algo que governos nos dão. Temos que nos conscientizar que as respostas e soluções que precisamos não serão dadas por governantes. Eles sempre vão precisar de nossa ajuda para que se construa o país que queremos.

Competitividade é algo que se constrói por meio de cadeias de coerência, conhecimento do funcionamento dos mercados, visão estratégica, lógica, bom senso, que precisam ser estabelecidas com muito trabalho e “capacidade de entrega”.Essa lógica não costuma ser de governos. Eles sempre têm grandes dificuldades com essa fundamental sincronia de questões.O lado político sempre atrapalha.

Além de falarmos construir a competitividade de empresas,precisamos construir a competitividade de infraestrutura,conhecimento aplicado,sistemas de ensino,de territórios, de cadeias produtivas, saúde, meios de transporte, de logística, tudo interligado entre si. Precisamos aprender a costurar o bom enlace competitivo que envolve todas essas questões.

De que adianta termos sol e água para prover a produção da terra, para com isso sermos grandes exportadores, se não temos canais navegáveis, eclusas nas barragens, ferrovias e portos competitivos? De que forma estamos tratando a questão da competitividade da produção da terra como um projeto de uma nação que quer evoluir?

A orientação oficial e a postura vigente estão causando um violento processo de desindustrialização. De uma certa forma é o que está nos salvando de uma grave crise de escassez de energia elétrica. Sabemos o que precisamos fazer, para enfrentar concorrentes internacionais no Brasil e nos mercados de exportação.

A última vez que tive a oportunidade de ver,em Brasília, plano para uma política industrial brasileira, que não foi implantado, foi em meados da década dos anos 80. Desde então ficamos discutindo pequenas coisas, o cosmético, o epidérmico, o político, o inócuo, a maior ou menor abertura do mercado, o que é apenas uma pequena parte do necessário debate do todo.

Entra aqui uma questão que reputo fundamental. Em que medida nossos empresários estão sabendo conversar entre si para estabelecer um verdadeiro roteiro de construção de um novo Brasil e uma nova competitividade? Em que medida esse roteiro está sendo devidamente construído, sem que se entre no jogo da presença predominante do governo e seus interesses políticos e eleitoreiros de curtíssimo prazo?

Em que medida precisamos inverter o jogo, em vez de passar nossa vida atendendo as exigências de governo, de entidades de regulação e controle, que vão se acumulando, não passamos nós a fazer as tão necessárias e profundas exigências ao governo?

Em que medida precisamos dar um basta à reuniões improdutivas, que não levam à nada,por falta dese entrar com propostas mais estruturadas e completas? Busca necessária da perfeição?

O congressista americano Ron Paul escreveu um livro, “Liberty Defined” que acabou de ser traduzido para o português e deverá ser editado brevemente. É preciso que esse livro seja lido por todos. Ele nos lembra que, contrariamente ao que muitos pensam,governos devem estar a serviço do cidadão e que cidadãosnão devem estar a serviço de governos.Eles colaboram com governos. É outra coisa. Bons cidadãos podem estar a serviços de governos, desde que sejam bons governos, que realmente tenham interesse pelo bem estar da sociedade e não busquem projetos de poder pela simples busca da perpetuação no poder. História que sempre se repete pelo mundo todo.

O início dessa caminhada chama pela necessidade de cada setor empresarial brasileiro passar por uma revisão estratégica, não com visões de defesa, proteção e crescimento como sempre foi, mas com visão de competitividade e capitalização. Os diferentes setores devem criar os marcos que se sucederão no caminho da construção da competitividade. Pactos de Moncloa setoriais. Fóruns setoriais.

Empresários mais interessados, experientes, poderão montar grupos de interesse estratégico, reviver Fóruns que já existiram no passado, como sempre existiu em tantos  territórios e países. A partir dessas iniciativas, estabelecer novos padrões de diálogo com os diferentes governos. Discutir o que queremos, não o que governantes acham que devem nos dar!

Temos aqui uma chamada bem forte: empresários precisam definir objetivos, cronogramas, responsáveis, fontes de recursos, resultados esperados etc. O que é normal em muitos países que se fazem respeitar.

Quem quer começar?

Luiz Bersou