27 de julho de 2011

A LÓGICA DA CONSTRUÇÃO E DESTRUIÇÃO DE NAÇÕES, SOCIEDADES E EMPRESAS

A história nos conta que Leônidas, comandante dos Espartanos, mesmo dispondo de pouco recursos impôs severas derrotas a Xerxes. Mostrou que o conhecimento do campo de batalha, estratégia e sincronia dos recursos humanos,são muitas vezes mais importantes do que muitos recursosdisponíveis, mas mal aproveitados.

Em contexto mais recente, a derrota dos francesas na batalha de Bien Dien Phu, antecipou o que seria mais tarde a grande derrota dos americanos no Vietnã. Mesmo com recursos escassos, os vietnamitas impuseram derrotas marcantes a franceses e americanos.

Atualmente temos o caso do Afeganistão. Alexandre o Grande não conseguiu se impor lá. Idem ingleses. Idem russos. Agora, americanos também. O que aconteceu em todos esses registos históricos? Qual foi o grande fator diferenciador?

JARED DIAMOND – “COLAPSO”

Jared nos conta no livro “Colapso” como sociedades escolhem o caminho do sucesso ou do fracasso. Quando nos olhamos no espelho, como cidadãos do Brasil, temos o sentimento de que países são imortais, sobrevivem a tudo. O que é ruim hoje, será bom amanhã. O futuro tudo resolve.

Grande engano. Grande mentira. A história está cheia de exemplos de países e sociedades extintas, por que escolheram o caminho do fracasso. De exemplos de algumas sociedades que sobreviveram, mas sofreram e perderam muito tempo, como a antiga União Soviética, como praticamente todos os países da África Continental.

No nosso caso, quanto tempo estamos perdendo? São mais de 50 nos que ouço que o Brasil será o país do futuro. Nunca me esqueço de que na década dos anos 80 havia em Brasília quem previa a emergência da China e apontava a necessidade do Brasil se antecipar a esse crescimento dos chineses e ocupar espaços no contexto internacional. Nisso tudo, qual foi o grande fator diferenciador entre os que escolheram o caminho do sucesso ou do fracasso?

WERNER JAEGER – “PAIDÉIA”

Jaeger nos trás à memória uma frase interessante da “República” de Platão. Platão nos levou para ver e encontrar o “Estado”. Mas o que encontramos, foi somente o “Homem”.

A qualidade do “Homem” faz a qualidade do “Estado”. Por isso ficou registrado que a preocupação central da sociedade grega era a educação. Nesse contexto fica extremante interessante a frase do filósofo australiano John Passmore, autor do livro “A perfectibilidade do ser” – enquanto o judaísmo, cristianismo e islamismo indicaram como caminho da perfeição a fé, submissão, obediência e a pobreza, os gregos indicaram como caminho da perfeição a educação.

KETAN – “O MESTRE DA ESTRATÉGIA”

No caminho da qualidade do “Homem” para a qualidade do “Estado”, qualidade da “Sociedade”, qualidade das “Empresas”, entramos em uma “ponte” que suporta as questões do conviver em harmonia, construção convergente de idéias, capacidade de trabalhar em conjunto,“Ética”, “Respeito”, conviver dentro de “Teorias de Estado” e “Teorias de Sociedades e Empresas” e a forma de funcionamento das instituições públicas ou privadas.

Essa “ponte” entre o Homem e o Estado, Sociedade e Empresas, Ketan chamou de “Princípios”.

O QUE SE CONSTRÓI E O QUE SE DESTRÓI – PRINCÍPIOS

Quando Ketan nos evidencia as razões do planejamento que dá certo, nos aponta o fundamento “Princípios. Quando falamos das sociedades que deram certo e as que não deram certo, entra como razão poderosa o mesmo fundamento “Princípios”. Isso aconteceu ao longo dos séculos. Exemplos dramáticos nas empresas.

Quando os “Princípios” estão presentes, em particular na visão de “Estado”, entra em campo o respeito pelas “Instituições”. Pesquisas recentes mostram relação praticamente direta entre respeito aos “Princípios” e“Instituições”, sucesso econômico e qualidade de vida.Isso acontece tanto no ambiente público como no privado.

A grande estatística da vida mostra que quando há respeito aos “Princípios”, construímos a qualidade de vida. Quando não há esse respeito, destruímos qualidade de vida. O mesmo fenômeno acontece nas empresas. Construção dos “Princípios” e sua manutenção são fundamentos do sucesso.

O marcante nisso tudo é que o fundamento “Princípios” se aplica à nossa vida. Platão nos levou a encontrar o Estado, mas apenas encontramos o Homem.Tudo isso se reflete no Estado, sociedade, escolas, igrejas, empresas e até nas equipes esportivas, como futebol e vôlei. Nos “Princípios” vamos do início ao fim da construção da condição competitiva, do sucesso econômico e da qualidade e vida.

O EXEMPLO DO LÍDER E DO ESTADISTA

Já no livro “A Educação de Ciro” de Xenofonte – A Teoria dos Grande Homens, aprendemos que o principal papel do primeiro mandatárioé dar o exemplo da Virtude, do Equilíbrio e do Saber.

Quando o primeiro mandatário dá esses exemplos, a sociedade reconhece o exemplo que é dado e busca a prática social de acordo com essas virtudes. Os efeitos se multiplicam. A sociedade se harmoniza, o estado se harmoniza, a empresa se harmoniza também.

Em termos de “Psicologia das Multidões”, temos a justificativa desse efeito. A clonagem da figura do mandatário, ou mesmo do presidente da empresa é fenômeno conhecido. O líder é copiado nas idéias, nas atitudes, na ética.

Esse fenômeno tão antigo, acontece para o bem e para o mal. Quando o exemplo do líder é para o mal, como tantas vezes já aconteceu, a multidão perde a capacidade de raciocinar, se apaixona pelo líder e perde todo sentido do bem e do mal – Freud – Le Bon.

O que temos no Brasil é o exemplo para o mal. Tudo o que se vê nos três poderes é a defesa de um estamento podre, com a corrupção sendo o grande jogo, defendida com grande ardor pela maioria imensa dos que estão no poder. O que agrava a situação é que todos os que estão próximos, mesmo não diretamente envolvidos são omissos em relação ao que acontece. Sabem de tudo mas são omissos. Todas as práticas legais possíveis são utilizadas, em particular o uso perverso do tempo. Tudo isso em nome de acordos políticos e busca de poder a qualquer custo.

OS EXEMPLOS QUE NÃO PODEM SE REPETIR

O grande exemplo que é dado é a complacência com o crime e com o desrespeito às instituições. Complacência e o uso perverso do tempo sempre permitiu as piores consequências para a sociedade. Evidências de fenômenos mais recentes agravam a situação. Os exemplos do brutal aparelhamento das universidades e os privilégios ao MST tem levado a questões preocupantes.

Em particular, a rebelião dos bombeiros no Rio de Janeiro, não vem ao caso aqui a qualidade da demanda, mas se trata de uma corporação militar, um caso em que fundamentos de uma corporação militar foram rompidos.

A questão preocupante é que o caso é apenas um convite, exemplo e sugestão para aqueles que estão de plantão buscando o aparelhamento político de todas as instituições do país. A busca da anarquia e dos interesses baixos. A tendência, pelo distanciamento da sociedade brasileira ao que acontece no país, é deixar que tudo isso aconteça.


Luiz Bersou

12 de julho de 2011

CORRUPÇÃO, O TEMPO QUE ESTAMOS PERDENDO E GOVERNANÇA CORPORATIVA

Quando discutimos com estrategistas a evolução dos cenários nos damos conta de uma falta de percepção que chama a atenção. Estamos entrando de forma praticamente definitiva no que os especialistas chamam de “Economia de Baixo Carbono”. Economia de baixo carbono tem uma vertente absolutamente importante que é a “Economia de Baixa Energia”. Economia de Baixo Carbono e Economia de Baixa Energia são fundamentos de sobrevivência.

Tudo o que fazemos terão que se acomodar nos fundamentos do baixo carbono e da baixa energia. Essa afirmação quer dizer também que tudo vai mudar. Nada será como foi até agora. Importante, fazer o que tem que ser feito vai custar muito e vai dar muito trabalho.

Esse desafio gigantesco ainda não foi percebido pela maioria das sociedades. No livro “Colapso” de Jared Diamond aprendemos como sociedades, nações, países morrem. Uma das razões é a falta de objetivos, visão do que se passa e falta de luta. A falta da boa luta onde se busca o conceito do “Logos”, da harmonia, que nos vem desde Heráclito da antiga Grécia.

Nesse momento em que fundamentos de economia de sociedade precisam ser refeitos, a sociedade política brasileira tem a fantástica capacidade de se interessar pelo inútil e pelo que lhe é conveniente. Será que podemos imaginar o risco que corremos com o modelo de gestão de sociedade que temos?

SOCIEDADE, REPRESENTATIVIDADE, VELOCIDADE DAS LIDERANÇAS E ESTRUTURAS DE GOVERNO

É da história da humanidade a convivência de sociedades com lideranças e estruturas de governo. O aumento da população, da produção, das necessidades de educação, do desenvolvimento tecnológico, dos custos sociais, as guerras, nos levaram a aceitar o aumento de estruturas de governo como solução da evolução do simples, as estruturas primitivas da sociedade, para o complexo, o mundo de hoje.

Boa parte da evolução que se registra na história, foi fruto da aceitação social como resposta a lideranças estabelecidas e estadistas que efetivamente buscavam o bom para os seus cidadãos. A sociedade sempre soube discernir, ao longo do tempo, o que é bom. O colapso de tantas ditaduras e governantes errados mostra o poder da sociedade quando ela se manifesta. Quando ela se manifesta. As vezes isso demora um bocado e aí vem o que nos conta o livro “Colapso”. Será que temos tempo a perder?

No caso brasileiro, ao longo dos anos as lideranças se esvaem de conteúdo e qualidade e as estruturas de governo incapazes se tornam cada vez maiores, sem que isso nada signifique em termos de benefício para a sociedade.

Credita-se a Felipe González, então primeiro ministro de Espanha, uma frase sábia durante a assinatura do Pacto de Moncloa, aquele que propiciou o grande progresso econômico pelo qual passou a Espanha durante muitos anos. O papel do estadista é o de ter mais velocidade do que a sociedade. É sua missão correr na frente e preparar os caminhos para que a sociedade marche por eles, livre, soberana, tranquila em seu progresso social e econômico.

O fundamento de correr na frente e preparar os caminhos que são de interesse da sociedade, nunca foi cumprido no Brasil. A sociedade tem mais velocidade do que os governantes e esses simplesmente correm atrás porque ganham com isso.

REPRESENTATIVIDADE E INTERMEDIAÇÃO IMPOSTA

Um fenômeno pernicioso sempre aconteceu. Os fundamentos da intermediação imposta sempre estiveram presentes na história da humanidade. Queres falar com os deuses? Deves primeiro falar com os sacerdotes. Os sacerdotes sempre zelaram muito bem por essa reserva de poder e mais tarde, de mercado. De uma certa forma, pode-se suspeitar que foram o vetor inicial de muitos processos de intermediação imposta que se desenvolveram na humanidade.

O viés da intermediação caminhou em muitas direções. Estruturações de governos e acesso a governos. Acesso à justiça. Acesso á liberdade. Acesso ao conhecimento. Acesso ao livre arbítrio. Do princípio inicial de representatividade da sociedade, estar a serviço da sociedade, rapidamente virou-se essa página e assistimos a busca da supremacia dos governos sobre a sociedade. Os governos se posicionam acima da sociedade e os partidos agora estão se posicionamento acima dos governos.

Verifica-se então que aos custos clássicos de estruturas de governo voltadas para os processos de representatividade da sociedade são agora acrescidos os custos da intermediação imposta . O que mais se faz no Brasil de hoje é criar dificuldades para se vender facilidades.

Verifica-se então que velocidade, que deve ser fundamento de governo, é decorrência de planejamento e nesse jogo não cabem estruturas pesadas e burocráticas. Passamos então a um embate em que a sociedade quer planejamento e velocidade e os estamentos de governo querem justamente o contrário. A paralisia de ação é justamente o pretexto para mais impostos e mais estruturas gordas, inchadas e felizes.

Não é a mesma felicidade do povo e do cidadão consciente e válido. Pode ser a felicidade das massas de manobra. Em texto extremamente atual, “Psicologia das Massas – Freud – Nota de Le Bon - 1920-1923” notamos frase que explica muito bem o que vem acontecendo conosco: a inibição coletiva da capacidade intelectual das massas e elevação do grau de afetividade da massa por seus líderes. Decorre a total incapacidade de discernir o que é bom e o que é mau.

Nisso tudo, vem mais uma vez a pergunta: temos tempo a perder?

INTERMEDIAÇÃO IMPOSTA E PASSIVIDADE SOCIAL

A luta pela terra, pela comida escassa sempre gerou estratos sociais que lutam pelos seus direitos. No Brasil os direitos sempre foram objeto de negociação e não de luta.

Vivemos em uma sociedade em que os corruptos praticam a democracia que lhes dá todos os direitos tortos. Os outros, o que lutam pela harmonia e ética são obrigados a conviver com a democracia que lhes nega todos os direitos. O autoritarismo do estado chegou a um ponto tal que a sociedade é tolhida em todas as iniciativas úteis que tente desenvolver. Recentemente recebi de um amigo a informação de empresário gaúcho, que foi multado por dar ensino para seus empregados e nessa inciativa desagradou alguns tecnocratas.

Será que não está na hora de aplicarmos tolerância zero em nossos governantes? Todos eles, sem exceção? Uns pela corrupção e outros pela passividade em relação aos seus grandes amigos? Será que não está na hora de parar de dizer que os acordos políticos tortos devem prevalecer pois são fundamentos democracia? Mais uma mentira de Papai Noel?

GOVERNANÇA CORPORATIVA E RESPOSTA DA SOCIEDADE

Tema da moda, objetivo da atenção de centenas de empresas, milhares de horas de aula para ensinar o que é. Um dos temas centrais da Governança Corporativa é a transparência. Se o fundamento transparência vale para as grandes empresas, por que não vale para os governantes, todos, até os omissos?

Criticas aos Tribunais de Conta sempre estiveram presentes nos noticiários, sempre da pior maneira. Como transparência é algo que é fácil de pedir, nem mesmo os muitos políticos famosos pela corrupção e no auge do poder, podem condenar a questão da transparência. Por que não começar por aí?

Será que não temos um grande tema pela frente?

Luiz Bersou