28 de abril de 2010

Capacitação nas empresas e gestão do conhecimento



Prezados amigos,

Na medida em que os cenários evoluem, novas demandas se apresentam cada uma com a sua própria urgência. Com o sopro de recuperação econômica com o qual a nossa sociedade já se satisfaz, nos damos conta que os colaboradores que queremos contratar ou não existem ou não estão disponíveis. Diante deste quadro muitas empresas fazem investimentos em cursos rápidos, internos, como forma de remediar o irremediável e tapar os buracos do curto prazo. Se a nossa velocidade de crescimento fosse maior, que problema, que desafio!

A questão já adquiriu tal agudeza que é noticia a idéia de importar mão de obra com conhecimento. Como não temos cidadãos capazes aqui, vamos trazer de fora, onde eles são bem formados e produtivos. Alguém pagou por isso lá fora. Alguém pagará mais por isso aqui.

Do outro lado deste cenário, por injunções políticas cada vez fortes, a questão do mérito, da luta pela formação, da luta para vencer os desafios, do esforço, da ética é deixada de lado. O mérito incomoda. O mérito chega a ser alvo da chacota, do deboche. Em uma sociedade em que todos têm direitos e não precisam ter deveres, o nivelamento é por baixo, onde se consegue mais votos.

O resultado de tudo isso é que na corrida tecnológica ficamos cada vez mais distantes dos outros. Lembro que quando ia aos Estados Unidos e Europa com freqüência eu comentava que o nosso atraso era de 30 anos, mas que íamos diminuir. Para quanto subiu o nosso atraso tecnológico neste momento atual? Conhecimento e tecnologia são fundamentos com os quais não se brinca.

Olhando do lado das universidades e dos cursos “MBA”, ficamos espantados com a distância do que é ensinado com aquilo que é a vida real. Cabem aqui algumas considerações. Faz parte da história que conhecimento é um acervo. Não necessariamente conhecimento produz resultado, em particular no curto prazo. Conhecimento não estruturado então raramente produz resultados no tempo desejado. Muitas vezes, os colaboradores entram e saem e “entrega” que é bom é muito pouca ou quase inexistente.

Conhecimento estruturado aplicado pode e deve produzir resultado em curto prazo. Acontece que são muito poucas as entidades de ensino que sabem realmente diferenciar o que é conhecimento e o que é conhecimento aplicado e se interessam por esta questão.

A ponte de ligação entre o conhecimento estruturado e a aplicação é muito estreita. Precisa ser estreita que é para não sacudir o estamento engessado do que é ensinado nas escolas. É mais cômodo continuar como estamos. Em muitas escolas, infelizmente é assim, os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. E muitos estão satisfeitos!

Na relação “aluno – professor”, temos em nossa opinião uma tragédia. A expressão educar nos traz o significado do transmitir, dizer como é. Esta expressão carrega consigo séculos de submissão intelectual, obediência ao professor, obediência àquele que ensina. Pior, receber sem discutir.

Na antiga Grécia, a expressão educação, ensino, estava muito ligada ao debate, à contestação, ao desafio da prática. Resumindo, o ensinamento grego antigo nos diz que “educação = contestação + experimentação”. O ensino que recebemos aqui é “aceite sem contestar”, obedeça. Neste caso estamos mais de 3.000 anos atrasados.

A relação “aluno – professor” se replica na nossa sociedade. Não contestamos nada. Aceitamos tudo. Felizmente, nesta sociedade temos alguns que se salvam. Os empresários, que lutam para construir empresas sadias e competitivas, de forma bem diferente daquilo que é ensinado nos acampamentos e escolas do MST. Ensino este que é dado com todas as bênçãos de nossos governos e entidades representativas. Somos traídos.

A história nos ensina que estamentos estáticos não levam a nada. A sociedade tem nas dinâmicas, das iniciativas os fundamentos das mudanças. As escolas e universidades hesitam em ir às empresas na busca da construção do conhecimento aplicado, daquilo que elas realmente precisam. Estão em condição estática. Este movimento é extremamente difícil, penoso para elas. Muito raras iniciativas nesta direção.
Por outro lado, conhecimento aplicado é exatamente o que as empresas precisam. As escolas têm vivido historicamente de forma extremamente conservadora, distante do mundo real. Por outro lado, as empresas estão no mundo real e não existe alternativa a esta condição.

As escolas ficam obsoletas, mas sobrevivem, por que a sociedade aceita esse “status quo”. Empresas não têm este beneplácito social. Elas podem morrer por falta de conhecimento. No mínimo elas perdem condição competitiva.

Quem perde mais, as escolas ou as empresas? Empresas, que ainda tem uma sobrecarga de encargos pela educação que faltou!

O que os empresários precisam então? Aqui entra a questão da gestão do conhecimento que é necessário para os dois lados. Trabalhar para caracterizar as necessidades do que um precisa e do que o outro terá a oportunidade de fornecer. Este é o tipo de trabalho direto com quem interessa que empresas, grupos de empresas, que querem evoluir podem desenvolver. É o tipo de encontro que é necessário.

Mapas de necessidades são informações que poucas empresas têm. Muitas vezes esta informação até existe, mas não gera busca de soluções. Tarefa de planejamento. O planejamento seguinte é o do mapeamento das possibilidades das escolas. Tentem, não desistam, que em muitos casos já deu certo.


Luiz Bersou