18 de abril de 2011

EMPRESARIADO E A COMPRA DO CONHECIMENTO

Tivemos no ano de 1979 a primeira grande máxi desvalorização da moeda, decorrente de um estado de grande penúria nas contas publicas. Na época fizemos a ousada previsão de que haveria uma segunda maxi desvalorização cambial. A primeira não teve o impacto suficiente para provocar os efeitos necessários. Foi insuficiente.

Chamados a defender a tese da segunda máxi desvalorização, ela aconteceu, fizemos em 1979 e 1980, como forma de entender o que estava se passando com as contas públicas, a consolidação das contas do Tesouro Nacional, das empresas estatais, alguns governos estaduais e confrontamos com os correspondentes orça-mentos. Foi um trabalho muito grande, dada a dispersão dos dados, muitas vezes ocultados da visão dos que estavam de fora, por todo um conjunto de interesses duvidosos.

O que encontramos foi um “Buraco Negro”, dos que se encontram nas galáxias. Em uma época em que a expressão “bilhões de dólares” não constava do vocabulário econômico, o que se poderia chamar de prejuízo operacional do Brasil, passava de várias dezenas de bilhões de dólares. As empresas e entidades estatais respondiam por 2/3 do déficit apurado. Foi a primeira vez que se consolidaram aquelas contas e o choque da verdade foi brutal.

Após lenta absorção da verdade, um longo e hesitante caminhar começou a gerar respostas ao que foi encontrado. Austeridade fiscal, lei da responsabilidade fiscal, busca do equilíbrio das contas públicas e a muito necessária privatização de templos do mau exemplo do que é administração do bem público.

OS RESULTADOS
Em casa de pobre, temos que escolher se o cobertor vai cobrir a cabeça ou os pés. Dada a dimensão do caos econômico, que nunca foi devidamente exposto à opinião pública, os resultados alcançados com as contas públicas, que foram muito importantes, nunca satisfizeram devidamente algumas camadas sociais mais sen-síveis ao sofrimento que a pobreza sempre trás.

Ao mesmo tempo um debate não resolvido, sobre o papel do governo, deixou que se passassem muitas opor-tunidades. A partir da política americana dos “Estados Testemunha”, produto da derrota americana no Vietnã, a guerra militar virou guerra econômica. Nasceram os Tigres Asiáticos, para mostrar ao mundo as benesses do capitalismo.

A partir da visão da potencia dos tigres asiáticos, houve o momento, anos 80, em que muitos intelectuais já viam na China a potencia emergente que viria a se transformar no grande devorador de concorrentes que é hoje em dia.

Já havia no pensamento deles a visão de que se o Brasil quisesse vir a ser uma potencia do primeiro mundo, teria que correr mais do que a China. O momento era aquele. Falo ainda de uma China de pobreza extrema, onde se via nas feiras livres de províncias do interior, chumaços de ratos presos pelos rabos, como se fossem chumaços de cenouras. No Brasil, em alguns pontos, ainda existe algo semelhante.

Exatamente nesse momento, uma politica arrecadadora predatória fez com que muitas empresas presentes no Brasil transferissem suas fábricas para outros países. Nunca esqueço o caso de toda uma fábrica, até as luminárias, móveis e tudo o mais,que foi transferida para a Malásia. Logo depois se via nas nossas ruas o mesmo produto, “Made in Malaysia”. O desastre da indústria têxtil foi outro exemplo. Decorrência, entre outros fatores, de uma politica fiscal que iria nos fazer andar mais devagar do que China. Os resultados aí estão.

O PASSADO RECENTE
Perdida a dinâmica que poderia nos dar mais velocidade do que China, outros grandes erros aconteceram. O governo fala em gerar empregos. O que interessa na verdade é prover as condições de criação do trabalho. Emprego é decorrência. O governante brasileiro obcessivamente pune o empresário. Pune a criação do trabalho. Pune aquele que realmente trabalha e muito, para gerar a riqueza de que o país tanto precisa. É visto em muitos fóruns como um ser vil, inimigo do povo. Como gerar trabalho então? Novamente as propostas que já afundaram o Brasil no passado do estado empresário? Tão a gosto dos que não gostam de trabalhar?

Ao mesmo tempo, precisamos considerar o contexto histórico do desempenho dos sindicatos. Já a partir do ano 1.100 notamos a atividade das corporações na defesa dos interesses dos profissionais que elas representavam. Muita coisa boa aconteceu. Para os empregados, para o respeito entre humanos e seus direitos, para a sociedade. Entretanto, a observação da história nos mostra algo inquietante.

Os sindicados são muito bons em transferir riqueza de uns para outros. Não consta da história que eles tenham experiência emgerar riqueza. A visão é distribuir riqueza, o que é muito diferente. Estamos então em um país que pune o empresário e é governado por uma classe política e grupos de interesse, que nunca gerou riqueza ao longo da história.

A GRANDE COMPRA
Por outro lado, como decorrência dos erros e acertos, do tempo que passou, de um contexto internacional que no passado recente nos ajudou muito, classes sociais com mais poder de compra começam a acontecer. Qual será a grande compra que essas classes sociais vão fazer?

Historicamente fomos submetidos a estamento de governos que no passado já fecharam escolas para que os seus cidadãos não aprendessem a ler, temor do conhecimento, temor da leitura da Bíblia, temor do livre arbítrio, visão de que o caminho da perfeição, da salvação está na obediência, submissão e miséria, de um estado que nunca deu importância à educação por medo do voto consciente.

Esse passado dificultou a percepção de que a grande ansiedade das diferentes camadas sociais sempre foi o conhecimento. Questão muito importante em diversos momentos da história da humanidade. Temas do passado, mas que com a globalização e a internet estão renovando de forma muito potencializada a demanda por mais conhecimento, mesmo que o conhecimento transferido via internet seja muito superficial em um primeiro momento como é crítica geral.

Temos então uma grande luz pela frente: a grande compra do brasileiro vai ser “Conhecimento”. A história da humanidade vai se repetir . Que tremam os coronéis do nordeste. Que tremam os palácios dos governantes. Que tremam os que sistematicamente aviltaram a educação e abafaram a formação da consciência social.

A SOCIEDADE CONSCIENTE QUE LUTA
Recentemente o ex presidente Fernando Henrique Cardoso fez um pronunciamento que gerou muita polêmica. Ele se referiu à classe média emergente como foco de atenção de partidos políticos. Os políticos partem do princípio que são eles que fazem a nação. Para eles a obediência dos governados é devida, fator de poder e de permanência no poder.Povo é para isso. Visão de que o povo nada faz, nada sabe, nada pode.

O primeiro ministro de Espanha Felipe Gonzalez, na época do Pacto de Moncloa, fez um pronunciamento que nunca esqueci. Ele disse: o papel do estadista é ter mais velocidade do que a sociedade, correr na frente e preparar os caminhos para a sociedade fazer o seu papel de produzir riquezas.

O político brasileiro nunca entendeu essa grande verdade. Por outro lado, a sociedade brasileira sempre teve muito mais velocidade do que os políticos. As favelas são a prova disso. Velocidade desordenada.

O que a mensagem de Fernando Henrique Cardoso pode provocar? Uma classe emergente que compra conhe-cimento, que estuda, é uma classe com um grau muito maior de consciência social. Sociedade que ouve e pensa. O debate com essa classe social pode gerar milhares de multiplicadores de novas idéias, de um novo orgulho nacional, sem corrupção, onde os fundamentos da honra e da ética fiquem no altar da pátria. Poderemos então ter a velocidade ordenada e convergente para a construção da riqueza.

Toda sociedade quer para os seus filhos exemplos de honra e ética que em geral vem dos seus governantes, das grandes figuras públicas. No Brasil, as figuras públicas nos dão somente maus exemplos. A nossa sociedade vai fazer o caminho inverso, pelo debate de uma sociedade que por se preocupar em comprar conhecimento, vai mostrar aos governantes o que é honra e ética.

AS EMPRESAS E OS FUNDAMENTOS “ENTREGA & HONRA”
“Entrega & Honra” são fundamentos que sempre estiveram presentes na história da humanidade. O estado de consciência entre o dever a cumprir, o planejamento, a tarefa, a qualidade, o trabalho em equipe, a sincronia dos esforços, a velocidade necessária, a boa gestão dos recursos escassos e o estado de prontidão para a superação de tudo isso, fazem parte dos fundamentos “Entrega & Honra”.“Entrega & Honra” pressupõe o esforço de superação pela crença nos objetivos estabelecidos e concordados.

Há muitos anos que escrevemos sobre o que falta no treinamento dos nossos colaboradores. Há muitos anos escrevemos sobre como honra e ética podem contribuir para a melhoria de desempenho de nossas empresas. De nossa sociedade. Fazer em nossas empresas a multiplicação das boas idéias, como FHC está propondo como fator de multiplicação para a sociedade.

Vai dar certo. É um bom caminho a seguir. Cidadão consciente, colaborador consciente, dão diálogo eficaz e produtivo.


Luiz Bersou