20 de março de 2013

Processo agudo de desindustrialização em curso - Onde essa tendência vai parar?


O que era evidenciado por sinais tênues, é hoje em dia uma tendência marcante. Agrava essa tendência a evidente hesitação dos investidores. Há um sentimento de não se acreditar mais na indústria do Brasil.

Conversando recentemente com importante industrial de Ribeirão Preto, ele disse: vou fechar as fábricas, vou ficar somente na importação e comercialização. Outro industrial de São Paulo tinha 5 fábricas. Hoje apenas presta assistência técnica aos produtos importados que vende aqui. Quantas vezes já ouvi essa afirmação? Já perdi a conta. A tendência é muito forte.

Um efeito perverso é a perda de base tecnológica. Que os outros estão ganhando. O governo reclama da falta de inovação. Como tratar dessa questão em um ambiente de perda tecnológica? As questões de base estão muito abaixo do nível por onde circula o pensamento governamental.

Ciclos econômicos curtos e ciclos econômicos longos
Países pobres como o Brasil, onde há evidente falta de capital a serviço da sociedade, precisam de ciclos econômicos curtos.

Há no Brasil toda uma história de ciclos econômicos longos. Exemplo, pecuária, espera-se mais de dois anos para se abater o boi, em muitos tipos de produção na agricultura, café por exemplo, anos para fazer a primeira colheita e colheita uma vez por ano. Na construção civil, construímos prédios que representam um enorme capital imobilizado, que ao longo de sua vida dão emprego para um zelador, um faxineiro e um porteiro. Aproveitamento social muito baixo do capital.

Na indústria em particular, vendemos, compramos, produzimos e entregamos em ciclos de tempo muito mais rápidos. Com frequência em um a dois meses. A realização do lucro é rápida. São os ciclos econômicos curtos, demandam menos capital para fazer a operação. Todos os países precisam de ciclos curtos, em particular os ciclos industriais. Países como o Brasil precisam ainda mais, dada a já mencionada carência de recursos na sociedade que trabalha.

Questão característica da indústria, ela dá espaço para a inovação, para acionar a nossa capacidade de construir coisas. Gera trabalho. Por consequência, gera emprego. Deveria ser prioridade!

O peso Governo Brasil na indústria brasileira
O governo impõe ao industrial brasileiro cada vez mais exigências, regras, taxas, impostos, restrições de todo tipo. Algo muito grave, impõe muita perda de tempo. Transforma o ciclo longo em ciclo lento pelo peso da burocracia. O industrial brasileiro passa com o pires na mão por “n”burocracias, cada uma completamente alienada do que exige a outra. Exigências conflitantes são frequentes.

O “Marco Regulatório” é oscilante e governado por portarias. Qualquer burocrata de governo cria o empecilho ao desenvolvimento de que mais gosta, que é aquele da sua especialidade. Não temos o governo como aliado dos industriais, temos o governo como um bedel infantil que tudo restringe e tudo proíbe. Há uma visão operacional pequena, não há uma visão estratégica grande.

Se adotarmos o pensamento de que o Raciocínio Estratégico existe justamente para alinhar e facilitar caminhos em direção a determinados objetivos, percebemos que tudo o que faz o Governo Brasileiro, é o anti estratégico. Dificuldades no lugar do relacionamento consistente, estruturado e positivo.

O mais grave de tudo isso, é que o empresário brasileiro, em vez de direcionar suas energias para a construção do futuro e desenvolvimento da sua empresa, que é também o futuro do Brasil, direciona as suas energias para a complexidade infernal que os governos se encarregam de descarregar nas suas costas. Que ele aceita!

Não é de se espantar com a constatação frequente que fazemos atualmente: o número de empresários que apenas esperam uma oportunidade para vender sua empresa e se livrar desse abacaxi.

Não é assim que se constrói um país.

A média e pequena empresa com conteúdo tecnológico no cenário competitivo mundial
Sabemos que em todos países as grandes empresas tem seu papel importante nos mecanismos de força que circulam pela sociedade. São importantes, mas raramente dão os empregos que a sociedade precisa. Operam com ativos tecnológicos restritos aos contextos econômicos de seu interesse. O mais importante, por exemplo, a indústria automobilística não faz um país. É preciso muito mais.

Construir uma base bem numerosa de empresas médias e pequenas, com conteúdo tecnológico que contemple uma gama mais completa de interesses da sociedade, é um raciocínio absolutamente estratégico. Essas empresas precisam ter massa crítica mínima para fazer a inovação incremental do seu conteúdo tecnológico.

Muitos países que direcionaram políticas de governo para o estímulo da média e pequena empresa tiveram grandes ganhos sociais por conta dessa iniciativa. A riqueza foi produzida e se disseminou. Todos ganharam. Em particular, ganhou a inovação. É interessante observar que muito do que os americanos apresentem hoje em dia, tem suas origens em algum pequeno empreendedor. Lá existe quem o entenda e quem o apoie.

Os recursos disponíveis para oxigenar as médias e pequenas empresas
Tivemos outro dia a oportunidade de navegar pelos portais que fazem o mapa de recursos disponíveis no mercado interno. O Brasil ao longo dos anos direcionou muita oferta de recursos para as empresas com propostas de desenvolvimento de conteúdo tecnológico. Toda essa oferta está em um emaranhado de exigências sem fim. A burocracia tolhe o valor da proposta inicial.

Cabe aqui uma revisão do Marco Regulatório, de forma que toda origem de recursos, federais, estaduais e municipais transitem pelas mesmas regras e exigências. Essa revisão nunca será feita pela burocracia instalada nos diferentes níveis de governo. É o que justifica a sua existência.

Cabe então um chamado às classes empresariais em suas diferentes associações.Novos objetivos para essas entidades. Todos os bons cidadãos têm interesse que a dinâmica do mercado das empresas com conteúdo tecnológico se desenvolva. Novos negócios, novas tecnologias, novos mercados, mercados internacionais. Toda grande empresa precisa de outras empresas, médias e pequenas. Cada um precisa do outro, nessa malha que representa o novo estado das cadeias de valor, que são os campos de valor.

O posicionamento das entidades financeiras e as empresas
Aqui entra outra questão que precisa ser revista. Pagamos “spreads” altíssimos. Dos maiores do mundo. Porque eles são tão elevados? Temos que considerar primeiramente que bancos que tem governos para os quais podem emprestar muito dinheiro sem riscos, terão sempre como prioridade o governo e não as necessidades da sociedade.
Somos uma sociedade, onde se incluem os bancos, formalista, patrimonialista, paternalista e avessa ao negócio, ao risco. Os bancos emprestam dinheiro para empresas que pouco conhecem, não sabem da exata qualidade do negócio, da evolução da condição de risco, tudo isso por que analisam as empresas segundo documentos extremamente formais, que não interpretam a dinâmica e a alma da empresa. E por que emprestam? Por que o spread resolve qualquer questão! Por que dedicar tempo a analisar empresas e os seus negócios, se o spread cobre os meus riscos?

Em particular em relação às entidades de fomento, enquanto as análises não forem muito mais profundas e consistentes, assumindo dessa forma spreads muito menores, apenas estaremos fingindo que financiamentos o crescimento do Brasil. Mais uma vez uma chamada às classes empresariais para assumirem novos objetivos em suas associações.

As incubadoras – a possibilidade de recuperação da base tecnológica
Já tivemos oportunidade de visitar incubadoras em diversos países. Também no Brasil. A proposta é a mais nobre possível. A expressão “incubadora” tem o significado de que alguém cuida de alguém e contribui para a sua evolução e qualidade de vida.

No Brasil percebemos a enorme distância que existe entre as empresas incubadas e as entidades que deveriam ter propostas de orientação tecnológica, estratégica, comercial, operacional e de gestão. Por que mencionamos enorme distância? A razão é que essas entidades existem mas não chegam nas empresas. Incubadoras no Brasil tem outro significado. Está muito mais para um hotel onde as empresas compartilham espaços, na base de cada um por si, do que uma verdadeira incubadora no sentido lato da palavra.

Aqui mais uma vez renovamos uma proposta já apresentada para algumas entidades. Por que não se criam mecanismos de apoio às empresas associadas dentro das próprias associações? Foi com essa visão que entidades que existem há séculos renovaram as competências profissionais dos seus participantes. A história conta.

Luiz Bersou

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