A verdade começa a aparecer. A vida não vai ser fácil. Nossa produção industrial não evolui há três anos. Vivemos um processo de desindustrialização. Ficou mais fácil importar. Com a benevolência dos nossos governos, para atender a necessidades de curto prazo do caixa dos governos, geramos empregos em outros países. Aceitamos e depois reclamamos de mais impostos que querem nos impor.
A produção da terra continua sendo uma grande promessa. O que se verifica é o pouco valor agregado comparativamente ao que fazem outros países. Entramos na era do baixo carbono e baixa energia. Todos os custos vão aumentar. Tudo vai ficar mais difícil.
Em outros Países, para os quais temos mais facilidade de exportar, crises sérias. Esgotaram as respectivas capacidades de endividamento. Houve endividamento, mas o PIB não cresceu. Dá para concluir que o endividamento apenas sustentou o consumo. Muito complicado.
Como nossas empresas devem ser preparar para esse cenário? Com muita frequência ouvimos falar em redução de custos. O que está faltando? Rapidamente percebemos que boa parte de nossas fragilidades estão em alguns poucos temas. Vamos aqui colocar o que depende apenas de nós empresários já que não vamos falar agora da estrutura fiscal que nos pesa tanto:
(1) Comparativamente a outros Países, nossa competência comercial deixa muito a desejar. Quando se vende mal, sem planejamento, sem ritmo comercial, sem estratégias que valorizem nossos produtos, a pouca velocidade dos nossos processos de venda, verificamos que esse é o primeiro grande risco de qualquer empresa.
Venda lenta e difícil significa que proporcionalmente todos os custos são maiores. Apesar de todas as evidências, não é de nossa cultura nos preocuparmos muito com o nosso desempenho comercial. Poucas empresas se preocupam com o lucro no cliente, aquele que indica a nossa qualidade comercial. Algo que precisa ser prioridade. Ponto a ser atacado.
(2) Somos um País em que há uma severa restrição de capital de giro dos variáveis. A escassez de capital restringe o ritmo de nossas empresas, restringe o crescimento e aumenta os custos. Temos toda uma história de empresas que crescem, mas a partir de uma certa idade sofrem colapsos e passam a sofrer.
Esgotaram a capacidade de endividamento, esgotaram os recursos de capital disponíveis. Tentam crescer para lucrar e descobrem que essa estratégia, em presença de escassez de capital é uma terrível armadilha. Somente com muitas dores aprendem que no Brasil precisamos primeiro lucrar para crescer e somente bem depois, capitalizados, podemos crescer para lucrar.
O que é importante: hoje em dia já existem recursos de informação que nos permitem conviver com escassez de capital e mesmo com essa dificuldade,criarmos o processo de capitalização de que precisamos.
(3) Nossas empresas dominam muito mal as informações com as quais trabalham, seja nos aspectos transacionais, seja nos aspectos de análise e interpretação de resultados. Investimos muito pouco em dominar as informações que precisamos para trabalhar. Achamos que o pessoal de TI vai resolver esse problema para nós. Acham que os ERPs vão resolver tudo. Não vão. Não está ao alcance deles. Somos nós que precisamos dizer para eles que modelos de análise e informações precisamos. Quando os modelos de análise e as informações não estão disponíveis, o que se vê nas empresas é muita gente lutando com a falta de informação, sem resolver seus problemas nessas questões. Será que eles foram contratados para isso? Tentativas canhestras de desatar o Nó Górdio. Outro ponto a ser atacado.
(4) Complementarmente é comum recebermos a observação de que se investiu em sistemas de TI para baixar custos e isso não ocorreu. Pelo contrário, os custos aumentaram. Sistemas de TI devem ter como objetivo aumentar a velocidade dos nossos sistemas de trabalho. Nessa condição os custos diminuem. Como aumentar essa velocidade se os modelos de análise não se fecham? Como chegar aos custos desejados se todos os sistemas que analisamos estão incompletos?Se em praticamente todas as empresas que visitamos, o que temos é um festival de planilhas eletrônicas? Tema a ser enfrentado.
(5) Todos os temas acima citados passam entretanto por uma condição cultural que temos muita dificuldade em superar. Somos uma das culturas em que menos se discute no ambiente profissional. As necessidades das empresas se subordinam às conveniências das práticas políticas e de convivência. Decorrem empresas com poucas salas de reunião por que se entendem que não são necessárias. A síndrome da perda de tempo com reuniões. O paternalismo que parte do princípio que de os outros não precisam pensar, apenas obedecer. Essa cultura começa nos nossos governos e termina na menor das empresas. Decorre a falta de visão dos horizontes, o sentido do posicionamento de cada um perante as necessidades das empresas, mas no fundo, o que falta é respeito para com os nossos colaboradores e dessa forma, os ajudar a nos ajudar. Ponto para pensar.
(6) Colocada a questão da contribuição do trabalho em equipe, comentamos por último a necessidade de melhorar os nossos processos produtivos. Os conceitos de “Curva de Experiência” se desenvolveram a partir dos anos 30. Já se passaram 75 anos. Hoje em dia os modelos matemáticos são de fácil aplicação. Por que os usamos tão pouco? Eles estão à disposição. Ponto para pensar.
Temos cenários difíceis pela frente. Temos análises a fazer e providências a tomar. A velocidade com que o desconhecido chega é cada vez maior. Há uma certa urgência em nos preparar.
Luiz Bersou
4 comentários:
Concordo plenamente com o exposto.
Porém faltou algo a acrescentar, a FALTA DE CULTURA EMPREENDEDORA no nosso governo. Se importamos e vendemos, é porque os investimentos necessários e a força intelectual para desenvolvermos um produto competitivo nos é impeditiva. O que vemos são poucos investimentos por parte do capital público e privado para o fomento dessa nova classe empreendedora, que vem crescendo bastante. Falta dinamismo e concretização às oporunidades empreendedoras. Falta FAZER ACONTECER.
Abs
Marcos Castro Jr.
Sem dúvida, Marcos Castro. E tem mais: o govêrno agora entra com a falácia de que é preciso aumentar o consumo para sustentar o crescimento. Pergunta do macaco aqui: consumir não é destruir o que foi produzido? Então, como é que "destruindo riquezas ficaremos mais ricos?". Não dá para entender o raciocínio que há (se é que há) por trás disso. Pode até ser que "consumo aumenta a atividade", mas não a riqueza que o mais rudimentar dos raciocínios conclui que é com investimento e com a atividade produtiva VENDENDO PARA FÓRA DO SISTEMA A ENRIQUECER que se fica rico. Digam-me Marcos e Bersou: onde é que eu estou errado nisso? Se estiver certo, será que alguem pode contar isso para o govêrno que está empoleirado aí no poder? Agradeço antecipadamente.
O mercado de hoje esta hiperconectado, gerando um grande complexidade com os ecossistemas dos negocios. Aqui me parece que nossos limites cognitivos são "cortados" e absorver toda a informação disponivel entra no "mundo do impossivel". Assim me pergunto, será que as projeções são assim tão relevantes se o mundo é imprevisivel????
O fator falta de consciência é, sem dúvida, um grande agravante a este ciclo vicioso. Vivemos num momento de cegueira onde hiperconexão, hiperconsumismo chegam e se reproduzem sem barreiras alimentando nossas ilusões. E assim vamos agindo em massa, como um rebanho sendo levado para lugar algum.
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