25 de novembro de 2007

A questão da vocação dos territórios

Dando continuidade aos nossos comentários sobre o crescimento econômico dos municípios, gostaríamos de falar nesta semana sobre a questão da vocação dos territórios.

Na história econômica mais recente, tivemos o caso da indústria relojoeira suíça, a qual por muitos anos foi líder mundial dos relógios mecânicos. Havia uma vocação ali, que foi alicerce econômico por muitos anos. Quando chegaram os relógios eletrônicos, a Suíça acusou o sofrimento com os novos concorrentes, mas rapidamente se re-equilibrou. Até hoje a mecânica de precisão é um dos fundamentos da indústria suíça. E ela não precisa ter medo dos chineses.

Quando a Itália começou a migrar do modelo de econômico baseado em grandes empresas para as pequenas e médias empresas, que foi o grande salto em termos que geração de riqueza que se deu lá, a questão de se colocar arte nos produtos era um tema recorrente entre os italianos. Precisavam de arte nos produtos para se diferenciar dos seus concorrentes. Há uma vocação presente.

Ainda na Itália, vemos na Planície Padana, o grande número de cooperativas e produtores de laticínios, em particular queijos. Quanto dinheiro se ganha ali. Há uma vocação presente.

Passando pelo sul da França, vemos os territórios envolvidos com a produção de fragrâncias, perfumes, em atividade febril e ganhando muito dinheiro. Há uma vocação presente.

Quando se fala de esporte brasileiro, futebol, não há como não reconhecer que existe ali uma vocação. Quando se criou em Brotas um centro de turismo ativo, que tem tanto sucesso hoje em dia, e isto a partir da perspicácia de um músico, estava se reconhecendo naquele território uma vocação muito interessante.

O que é de comum em todos esses exemplos? O que eles fazem, o fazem com facilidade. Esta facilidade vem da história, vem do aprendizado contínuo, vem do ambiente em que as pessoas estão, vem das estruturas familiares, vem das escolas da região, vem de algumas lideranças mais criativas.

Temos então a questão das vocações do território, e os mercados e demandas para estas vocações. Muitas vezes até reconhecemos demandas e oportunidades, mas por não perceber claramente com quais vocações estamos lidando, deixamos de aproveitar melhor as oportunidades econômicas que vão surgindo no dia a dia.

Os grandes planejadores do crescimento econômico de territórios dizem então que é preciso aproveitar esta questão de fazer as coisas com facilidade. Mas como transformar isso em coisa prática? Como fazer a combinação ideal entre mercados compradores, competitividade dos recursos do território, competitividade da mão de obra local, competitividade das tradições locais, competitividade de empresários que já existem na região e disto tudo fazer um grande sucesso?

Vamos ver agora o outro lado da questão da vocação dos territórios.

Em todos os lugares em que a vocação se transforma em um espetáculo econômico, percebemos claramente a objetividade, o aprofundamento nas questões, o foco nas questões que dão condições competitivas, o continuo aperfeiçoamento, a busca da qualidade, a busca da satisfação do cliente e como os diversos empresários se ajudam mutuamente para em conjunto se tornarem cada vez mais competitivos.

Vemos então que praticam um jogo absolutamente exigente, perfecionista, sem descanso. Percebemos então que se tornaram grandes especialistas na sua vocação. Neste momento percebemos então que ser especialista e competente é que constrói a competitividade que se criou a partir da vocação inicial.

Para despertarmos a vocação inicial o que se precisa fazer? Quantas vezes os empresários de uma região se reuniram para explorar este tema? Quantas vezes a partir deste tipo de análise encontraram-se possibilidades importantes para os empresários e para os governos?

Vamos começar este debate? Faz sentido? Vamos tentar para descobrimos que isso é mais fácil do que se pensa?


Boa noite,


Luiz Bersou

22 de novembro de 2007

A questão da infra-estrutura na competitividade dos municípios brasileiros

Na questão do crescimento econômico ressalta-se o tema infra-estrutura dos territórios e do país e como ela afeta a vida das empresas.

Trabalhei com uma equipe de Barcelona que era extremamente competente nas questões de desenvolvimento de territórios.
O que dizia esta equipe.

  • O primeiro fator de crescimento econômico e qualidade de vida de um território é a sua vocação natural.
  • O segundo fator é a qualidade da formação das pessoas que vivem no território.
  • O terceiro fator é a capacidade de juntar forças dos empresários, da sociedade e dos governantes com objetivos comuns. Dizia-se muito que governo nenhum governa mais sem a contribuição efetiva dos empresários e da sociedade.
  • O quarto fator é a coerência entre a infra-estrutura existente, a cultura do território e entre os centros de produção e mercados.

Com efeito, como a condição competitiva de uma empresa e das empresas de um território é formada pela condição competitiva específica de cada empresa, mais a condição competitiva de seus funcionários e colaboradores, mais a condição competitiva do sistema de infra-estrutura e mais a condição competitiva do peso fiscal, vemos quão longo é o caminho da condição competitiva.

Vamos lembrar que se considera como infra-estrutura todo o conjunto de informações, acessos, estocagem, condições de transferência e a flexibilidade, freqüência e velocidade dos meios de deslocamento de pessoas, cargas e informações e formação de pessoal de que dispõe um determinado território.

Quanta coisa para se pensar. Mas enquanto isso, na velocidade com que estamos reagindo a novas demandas de condição competitiva e como contra ponto de recursos de infra-estrutura continuamos a perder cargas, danificar produtos, atrasar entregas, a ver veículos danificados por estradas em más condições, a perder produções por condições de estocagem inadequadas.

Sabem vocês o quanto isso tudo representa? Dependendo da estatística de origem que utilizamos, até 100% a mais em custos e em tempo em relação aos países desenvolvidos.
Com tantos problemas, por onde começar? Se discutirmos a questão em termos de Brasil, o que se vai dizer é que se precisa de muito dinheiro. Se discutirmos em termos dos estados, o tema da necessidade de recursos vem igualmente junto, com a dificuldade a maior de que existem zonas de conflito de interesses entre governo federal e governos estaduais.

Olhando a questão de mais de perto, vemos quanta coisa pode ser feita no âmbito do município ou de associações de municípios. Que tal listarmos todos os temas que caracterizam a condição logística que afetam a nossas empresas e reunir os empresários e começarmos a debater o que pode ser feito em termos de cooperação público x privada?

Uma das formas interessantes de se congregar os interesses de diversos municípios foi a instalação do conceito de municípios pertencentes a uma mesma bacia hidrográfica. Que tal instalarmos o conceito de municípios pertencentes a uma mesma base logística? Quando Mogi das Cruzes recebeu a primeira faculdade de engenharia, percebemos rapidamente quantos municípios vizinhos se beneficiaram. Como fazer uma associação de municípios com uma mesma base educacional de referência? Vamos experimentar? Vamos perceber rapidamente que não existe o impossível para quem tem boas idéias e vontade de trabalhar.
Faz sentido? Vamos começar a pensar? Vamos fazer juntos? É muito mais fácil de fazer do que se pensa.

O custo da burocracia no Brasil

A questão do crescimento econômico no Brasil continua como sempre, um discurso não efetivo, onde se tem muito mais torcida por melhoria de resultados do que ações efetivas para construir o futuro que queremos.

Uma das questões que nos incomoda é a de que toda perspectiva de promoção de crescimento é colocada nas mãos do governo. É certo? É errado?

O que podemos observar: nos diversos paises em que a taxa de crescimento do PIB é superior aos 12% anuais, vê-se sim a ação do estado, mas muito mais a ação daqueles que acreditam no país, empresários e sociedade. Olhamos nos olhos de ucranianos, chineses, bielo-russos e de empresários de vários outros países e vemos luz, vontade e disposição para construir o futuro.

E no Brasil? Os empresários estão muito mais ocupados em concertar o passado e sustentar o presente do que construir o futuro. Por quê? Por que os governantes nos impuseram um país muito complicado. Por esta causa, os olhos de nossos empresários não brilham como lá fora.

Há anos comento que trabalhei para uma multinacional no Brasil que faturava 400 milhões de dólares/ano. Para fazer a gestão administrativa e financeira destes 400 milhões havia cerca de 30 colaboradores. Trabalhei em seguida em uma empresa em Grenoble na França que também faturava 400 milhões de dólares/ano. Para fazer a gestão financeira e administrativa empregava duas pessoas.

Em um mundo globalizado, onde estas duas empresas se encontram, uma está com 28 empregos falsos, mais toda a dor de cabeça de ter que administra-los.

Recentemente tive acesso a um artigo do professor Ives Gandra. Ele comprova a minha experiência citando estudo da Price, pesquisa em relação a 175 países, onde se mostra que o Brasil é campeão absoluto em custos por exigências tributárias: gastamos em média 2.600 horas por ano. No outro lado da escala, Inglaterra e Alemanha com 105 horas, Nova Zelândia com 70 horas, Suíça com 68 horas, Cingapura com 30 horas e Emirados Árabes Unidos com 12 horas por ano.

O que mostra o estudo? Temos 24 vezes mais custos do Alemanha e Inglaterra. Se eles podem trabalhar com 105 horas, significa que nós também podemos. O resto é emprego falso que não conduz a nada. Não faz o Brasil crescer.

Como começar a reagir? Primeiro precisamos estabelecer que evoluir até o padrão da Alemanha ou Cingapura, mais do que um objetivo que temos pela frente, temos sim um caminho a percorrer.

Se tentarmos resolver estas questões via congresso nacional e mesmo governos de estado, vamos receber um sonoro não pela frente, pois é de interesse deles manter o status quo. Temos então que achar outros caminhos, mesmo que sejam mais longos. Temos que construir o caminho da cultura da simplificação, para desta forma transformarmos o emprego falso em emprego produtivo.

Onde estão as empresas? Nos municípios! Que tal estabelecermos como um dos objetivos de relacionamento com os municípios onde estamos uma simplificação dos processos tributários, de fiscalização, de informação, enfim de modernização?

Faz sentido, isso? É impossível mudar ou apenas dá trabalho?
É muito mais fácil do que se pensa.

Faz sentido? Vamos mudar juntos?
É mais fácil do que se pensa.

Os grandes temas que fundamentam o crescimento auto-suficiente do território

Quando buscamos o crescimento dos municípios em que vivemos, de imediato se pensa na busca de recursos junto aos governos do estado e federal. Esta é uma prática tradicional e são poucos os municípios que conseguem fugir desta regra.

Precisa ser assim? Sabemos hoje que governante algum pode prescindir da colaboração da sociedade e do empresariado na construção do sucesso econômico do território que ele governa. Percebemos então que existem quatro grandes temas que fundamentam o crescimento auto-suficiente do território. São eles:

  • Convergência poder público e poder privado.
  • Vocação dos territórios.
  • Infra-estrutura disponível.
  • Cultura prevalente nos territórios.

A questão da convergência do poder público e poder privado é um grande avanço que começou timidamente há cerca de 30 anos. Hoje em todos os paises em que há um crescimento significativo do PIB, o financiamento privado em projetos de ordem pública é praticamente constante. São de educação, energia, comunicação, pontes, zonas francas, portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, silos, sistemas de processamento de safras, sistemas logísticos intermodulares, etc..

Temos casos antigos em Santa Catarina em que alianças entre a prefeitura e empresários locais na educação transformaram o município pela retenção de valores humanos no território por que antes iam buscar em outros lugares o ensino de que precisavam e daí não mais voltavam. Que belo exemplo de transformação. Como conseguiram isso tudo?

A Mondragon, do Pais Basco, começou como uma fábrica de enxadas. Hoje são mais de uma centena de empresas que fabricam desde satélites até trens de alta velocidade. Como conseguiram isso tudo?

Como construir a convergência do puder público com o poder privado? Eis aí uma grande questão.

Um conhecimento antigo que existe entre os que tem recursos é de que o dinheiro nunca falta, mas ele não se entrega. Ele vai se entregar quando, como contrapartida do dinheiro as partes tiverem um boa proposta estratégica, participantes válidos para sustentar o projeto, as propostas estiverem bem estruturadas e disso tudo resulte um mínimo de rentabilidade. Vejam, que a questão da rentabilidade vem por último lugar.

Recursos não gostam de projetos sem planejamento, sem uma adequada identificação, sem pessoas em condições de sustentar e garantir a correta implantação do que foi prometido. Enfim, recursos gostam de propostas consistentes, conservadoras, bem estruturadas, que dêem certo.

De que forma podemos no contexto da convergência público x privado apresentar projetos e investimentos que pela sua qualidade, beleza, validade e utilidade sejam naturalmente objeto de moções de apoio e efetiva colaboração?

Temos então um desdobramento importante!

De que forma podemos montar os assim chamados “projetos estruturantes”, aqueles a partir dos quais as economias locais tem apoio para se desenvolver? Projetos públicos e privados que geram projetos privados, alavancadores da economia local.

Este é um grande papel da convergência público x privado! Programas de trabalho conjuntos, a partir dos quais o município como um todo se desenvolve por que se instala um estado geral de crenças e afirmações positivas por que existem bases consistentes para tal.

Qual o milagre para isso tudo? Propor projetos consistentes, cautelosos, bem estruturados, com apoio de pessoas competentes. Faz sentido? Vamos experimentar? Vocês verão que é muito mais fácil do que se imagina.