Os diálogos eram forma
concreta de debate que gerou um grande patrimônio para a humanidade que se
sustenta até hoje.O que tinham de mais
profundo era o debate em si, que proporcionava a cada um que dele
participasse, a oportunidade de manifestar o seu ponto de vista.
Acho que no Brasil regredimos nesse
ponto. Será que somos capazes de sustentar diálogos? Estamos criando um
ambiente do nosso blog no Facebook, com a ajuda do nosso grande amigo Caio
Márcio Rodrigues. Vocês querem participar?
A questão da ética
Com frequência
nos diálogos de Platão se fala do amor. Pergunto, há maior manifestação de amor
do que a Ética? Do que a Virtude?
O que é então a
Ética? Existem tantas definições! Tantas filosofias originais de pensamento. Na
tentativa de responder cabem algumas perguntascomo alimento para o nosso
Diálogo. (1) Por que ao longo dos séculos se considera que o primeiro
mandatário de uma nação deva ser o altar da ética do seu povo, da sua nação?(2)
Por que no ambiente das empresas, Peter Drucker disse que o papel do
presidente é o de dar à empresa a sua personalidade e ética?(3) Por que
ao longo dos séculos, trair o altar da ética era o pior crime que um governante
podia praticar? Traição à sociedade?
Esse pensamento
existiu. Foi realidade. Foi fator maior da preservação de nacionalidades, de
sociedades, de povos. Ética sempre manteve povos unidos.
Para a
sustentação do nosso diálogo, cabe a pergunta: Teria sido então a Ética, ou
a cobrança do respeito à moralidade, do cumprimento das regras éticas o que
teria mantido povos unidos ao longo de séculos? O que levou à desunião de
tantos povos?
Voltemos à nossa
atualidade e vamos tomar conhecimento de estudos de término recente, conduzidos
por pesquisadores como o biólogo Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard.
Em texto de Jeronimo Teixeira, a respeito do trabalho de Wilson, aprendemos que
a evolução do altruísmo é o problema teórico central da sociobiologia, ciência que busca entender
em bases biológicas o comportamento social de animais e do homem.
Grosseiramente, podemos dizer que a bondade gera progresso econômico. Esta é
outra realidade. Os fatos comprobatórios existem. Se ética é uma manifestação
de amor, então ética conduz ao bem de sociedades e nações.
Vamos agora
retroceder novamente alguns séculos e nos fixar no que nos conta hoje o
historiador Gordon Wood. Ele tem uma abordagem magistral sobre o que foi a ação
dos Fundadores dos Estados Unidos. Escreveu: ser um americano não é ser alguém.
É acreditar em alguma coisa. Fantástico! Absolutamente fantástico.
No caso, era
acreditar em um conjunto de ideias que representavam cenários de liberdade,
respeito e convivência em sociedade. O historiador comenta que esse credo
permaneceu importante até a 2a Guerra Mundial, quanto o aparato
burocrático de governo para sustentar a guerra começou a pesar na vida dos
americanos. O aumento do poder do estado acabou por minar princípios centrais
de ética e liberdade (Liberty Defined, Ron Paul).
Quando morava em
Milão na década dos anos 60, percebi um dia que as igrejas e outros locais de
coletividades ficavam cheios à noite. Um frio danado. Pesquisando descobri que
a razão eram debates sobre os programas de governos dos diferentes partidos. A
população do bairro estava presente. Discutiam programas a serem executados.
Não discutiam nomes de políticos. Naquela época, de um período de crise
crônica, a Itália encontrou um longo período de crescimento. Havia todo um
conjunto de ideias. A luta por elas fez bem.
Temos então
algumas questões a mais para a colocar nesse Debate. (4)Por que que podemos
deduzir que dimensão de estado e ética são entidades antagônicas?(5) Por
que Estado hipertrofiado, pesado, grande, não tem ética? Portanto, Estado
pesado, grande, não constrói riqueza? Buscando apoio na fala de Gordon
Wood, vamos então a uma outra pergunta: (6) em que os brasileiros
acreditam?
Se estudarmos a
busca primal do homem, aprendemos que sempre existiram ciclos de demandas: ter
comida, roupas, moradia, como um primeiro ciclo de atendimento de necessidades.
Em seguida o acesso ao trabalho, estudo, deslocamento. Depois vem a família, a
preservação do ambiente familiar, o direito ao futuro, o laser e por fim o
alimento para a alma.
Temos no Brasil
segmentos de população nos diferentes ciclos de demanda. Os que apenas tentam
sobreviver, os que desistiram de sobreviver, os que sobrevivem e querem
crescer, os que já têm outras necessidades diferenciadas. O mesmo acontece em
tantos outros países. Por outro lado, sabemos que sociedades de consumo apenas
consomem, não pensam e não lutam. O consumo as anestesia, fazendo esquecer a necessidade
de luta por uma sociedade melhor.
Nesse contexto e
universo de necessidades, vem a nossa pergunta final: (7) há espaço no
Brasil para acreditarmos em alguma coisa pela qual valha a pena lutar, sair do
nosso conforto passivo, lascivo e crônico e levantar algo de bom como bandeira
da sociedade?
Luiz Bersou