Fiz recentemente uma palestra no Grupo de Estratégia e Planejamento em que apresentamos a evolução do endividamento de diversos países europeus em relação à evolução dos respectivos Produtos Internos Brutos (PIB) e correspondentes Déficits Orçamentários.
O que foi colocado em evidência foi o enorme crescimento da dívida desses países sem o correspondente aumento do PIB. Dentro de uma visão clássica, a dívida cresceu para nada.O que aconteceu?
Sociedades de consumo consomem. Consumir não deixa espaço para pensar muito. A avidez do consumo anestesia o enfrentamento de questões fundamentais. O consumo cabe na medida em que equilíbrios que precisam ser respeitados sejam respeitados. Visões anestesiadas não percebem essas necessidades.
Sempre tivemos uma importante base agrícola. Construímos no passado uma importante base industrial. Estamos em franco processo de desindustrialização e evoluindo de uma sociedade de base industrial para uma sociedade de base serviços.
Sociedades de serviços requerem mais conhecimento do que sociedades de base industrial. Sociedades de serviços são sociedades de conhecimento. Sociedades que pretendem migrar da base industrial para a base serviços sem serem sociedades de conhecimento, o extraordinário conhecimento que domina a sociedade de serviços, serão sociedades marginais.
De uma certa forma é uma repetição de nossa história. Sempre fomos a promessa do futuro sem chegar lá. Pior do que isso, não gerarão trabalho para os seus cidadãos na qualidade que será necessária.
No início da década dos anos 80 já se tinha a visão de que a China ia emergir como grande potência. Já se sabia que o Brasil teria que avançar no mercado internacional como potencial industrial de 3o mundo, produtos baratos mas com qualidade, para ocupar espaços. Nada fizemos e assistimos o trem passar. Brincamos com as políticas internacionais que deveríamos ter desenvolvido.O resultado é o nosso momento de desindustrialização. Por que isso aconteceu?
O que tanto tem marcado a ação de nossos governos e muitas empresas é um grande desequilíbrio entre o “Pensamento Estratégico” e a “Ação Operacional”. Sociedades são entidades vivas que estão sempre em contínuo movimento, em contínua evolução para o progresso ou para a decadência.
Os governantes e os presidentes de empresas tem como dever se antecipar a esses movimentos. Preparar os caminhos. Precisam ter mais velocidade do que as sociedades para antecipar objetivos e destinos.
O que fazemos como cultura nossa, tanto nas empresas como nos governos, é tratar de sustentar o dia a dia. Trata-se de questão infernal em que o estado burocrata e incompetente faz questão de tornar mais infernal a cada dia. As nossas energias são consumidas nessa luta diária que nos cega sempre. Mas culpar o estado não resolve, pois ele é apenas uma parte do problema.
É fundamento clássico de administração o equilíbrio entre a “Condução Estratégica e a Condução Operacional”. O equilíbrio entre o “Plantar & Colher”. A história das gerações nos conta que quando não plantamos, colhemos cada vez menos.É isso que fazemos a cada dia.
Em um momento da nossa história em que o desconhecido chega cada vez mais depressa e cada vez com mais impacto, fica cada vez mais evidente que temos que fazer uma ruptura nos nossos padrões de administração. Gastamos tempo demais com o “Operacional” e tempo de menos com o “Estratégico”.
Ao longo dos anos nos condicionamos a fazer os antigos “Planos Estratégicos”. Raramente funcionaram. Visão operacional se sobrepondo à visão do estratégico, debates pouco frequentes, objetivos confusos e a pressão do dia a dia, levou muita gente boa a esquecer o “Estratégico”.
O cenário mudou. Hoje em dia vivemos uma situação em que o que mais nos interessa sustentar deve ser o que chamamos de “Vigília Estratégica”. Pensar primeiro para poder agir corretamente em seguida.
Como exemplo interessante, estamos vivenciando empresas em que fazemos a discussão do “Estratégico” em cadência mensal. Esse debate é sustentado por “Mapas de Questionamentos Estratégicos”. Apos cada reunião é elaborado um novo mapa como decorrência dos mapas anteriores.
Como decorrência, as equipes comparecem com respostas ao estratégico. Está sendo recuperado o importante fundamento do equilíbrio entre a “Condução Estratégica & Condução Operacional”.
Essa iniciativa é boa para todos. Sugiro experimentar.
Luiz Bersou
Um comentário:
Caro Bersou ,
Pena que perdi sua palestra mas tempos breves virão para que não mais aconteça.
O equilíbrio entre o estratégico e o operacional é um fundamento muito sério que exige tambem disciplina , coisa que nós brasileiros ainda precisamos desenvolver mais. Disciplina com persistência e perseverança coisas raras nos dias de hoje com o curto prazo assolando nossos horizontes.
Abraços e até breve ,
Marcos
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