15 de agosto de 2011

CRISE MUNDIAL – SOCIEDADES DE CONSUMO – QUE MUNDO ESTAMOS CONSTRUÍNDO?

Fomos solicitados pelo Grupo de Excelência em Estratégia do Conselho de Administração de São Paulo a comentar na reunião mensal dessa 4a feira, 17/08/2011, o que entendemos sobre os significados da atual crise nos países de economia ocidental.Em 2008 tivemos a oportunidade de nos manifestar sobre o que acontecia naquele momento e de como as empresas deveria agir. Nosso comentário foi: as empresas ágeis terão sucesso, as lentas não, as capitalizadas sim, as não capitalizadas não. Lógica elementar. A questão agora são países e depois empresas. Que lógica seguir?

A CRISE NOS PAISES DO BLOCO OCIDENTAL

Há dois anos, assistindo a debates com executivos do Banco Mundial, o comentário que predominou foi: o nosso medo era a sobrevivência dos bancos, agora é a sobrevivência dos países do lado ocidental da economia mundial. Foram citados os Estados Unidos, França, Itália, Espanha, Portugal e Grécia como as nações de maior risco. Muitas outras foram igualmente citadas. Irlanda, Bósnia, Hungria, Romênia e Bulgária, entre tantas outras. Passados dois anos, os medos se confirmam.

O financiamento sempre foi o motor de aceleração das economias. Esse fato já era citado na Bíblia. Reis emprestavam dinheiro para as suas guerras e empreendimentos. A consolidação dos bancos como entidades formais nos sistemas financeiros permitiu a revolução industrial na dinâmica em que aconteceu. A demanda se apresentou, os mercados se formaram, houve trabalho e remuneração. Tudo cresceu.

A riqueza representada pelo patrimônio das empresas, pelos sistemas de infra estrutura, sistemas de ensino e os centros urbanos sofisticados deixou muitos cidadãos satisfeitos.O mercado dos que podiam pagar foi atendido.

Entretanto, o que mais deixou satisfação em todas essas sociedades, caracterizadas como sociedades de consumo, foi o atendimento sem restrições do desejo e necessidade de consumir e o atendimento da busca da vida segura e confortável ao longo de todo o ciclo de vida dos cidadãos.

Por conta dessa busca, Itália carrega dívida que representa 119,6% do PIB e déficit orçamentário que representa 3,6% desse mesmo PIB. Espanha, 57,9% e 7,8%. Irlanda 91,1% e 8,7%, Grécia 138,6% e 8,2%, França 81,4% e 6,6%, Portugal 91,1% e 7,5%, Estados Unidos 93,2% e 8,9%. Esses dados foram publicados na edição do jornal o Estado de São Paulo, em data de 14/08/2011.

Esses indicadores nos contam que a aceitação dos déficits orçamentários que levaram a esses indicadores de endividamento não se sustentam mais. Enquanto isso a China se apresenta com 17,7% e 1,6%.Brasil apresenta 50,1% e 2,6%. No caso do Brasil, o custo da dívida faz o mesmo estrago que acontece nos países altamente endividados.

Olhando para o que está acontecendo nos diversos países, nos deparamos com os confrontos sociais atuais em Londres, crises idênticas em Paris há bem pouco tempo, as elevadas taxas de desemprego em muitos países, a miséria endêmica na África e as atuais crises nos países islâmicos.

Os mercados sempre foram formados por aqueles que podem pagar. Temos pela frente um desafio gigantesco formado por aqueles que querem ser inseridos e tem menos condições de pagar para entrar na sociedade de consumo. A solução clássica para isso seria mais endividamento. Não pode mais. Como resolver? Não se tem solução!

O FATO NOVO

Essa pobreza, essa falta de acesso às benesses da sociedades ricas sempre existiram ao longo da história. Eram varridas para baixo do tapete. Os excluídos não tinham voz e representatividade. A revolução da internet e das redes sociais está dando aos excluídos a condição de existirem permanentemente, de uma forma que nunca aconteceu antes.

Os protestos estão se generalizando por toda parte. Acabamos de ver nos países islâmicos, na Grécia e Espanha. Na América Latina tivemos os panelaços na Argentina, protestos no Chile e mudanças importantes em diversos governos. Os excluídos não serão mais varridos para baixo do tapete, pelo menos os que tem coragem para protestar.

Está claro hoje que o endividamento progressivo apenas criou um grande fosso entre o lado rico, sociedades de consumo, e o lado pobre das sociedades, os que não conseguem consumir. Voltamos então ao nosso título: Que mundo estamos construindo?

SOCIEDADES DE CONSUMO E SUSTENTABILIDADE

Costumo dizer em minhas palestras que sociedades de consumo consomem e por isso não lutam. Isso é bem típico da sociedade brasileira. O consumo anestesia a busca pelos fundamentos de sociedade, equilíbrio, ética e justiça. O consumo deixa de lado as questões de transparência dos atos públicos. Nesse item somos um país que apresenta indicadores ridículos.

Nesse momento histórico entra agora uma nova questão: até quando as sociedades de consumo são sustentáveis, já que são as grandes geradoras de gás carbônico? Como ficam as economias de consumo em um momento em que a questão sustentabilidade demanda economias de baixo carbono, baixa energia e menor consumo de água?

A questão sustentabilidade vai custar muito caro para todos os países de economia ocidental baseada em sociedades de consumo. Por conta disso, os antigos tigres asiáticos que abastecem as economias ocidentais vão sofrer também. Quais respostas teremos? Quem paga?

RECURSOS PARA RESPOSTAS

Houve um momento brilhante na história da Grécia antiga, em que a educação era o centro de atenção e interesse da sociedade no Estado Grego. Hoje os sistemas de ensino estão severamente prejudicados na maior parte dos países do continente africanos, nos países islâmicos, nos países da América Latina e em particular no Brasil. A superação da atual crise econômica, mais os agravantes das novas demandas da economia de sustentabilidade vai exigir sociedades muito mais conscientes e preparadas em termos de educação e gestão do conhecimento. Ninguém está preparado.

Complementarmente, a capacidade de fazer com que grupos sociais nas mais variadas competências profissionais se sincronizem no enfrentamento do que está por vir será o grande desafio do futuro próximo. Para que isso aconteça precisamos anular o dirigismo e centralismo, desse novo estado brasileiro que está se formando em momento tão critico.

Convergência de energias, educação e gestão do conhecimento são a resposta adequada para sairmos do mar de tormentas com o qual teremos de conviver por longo tempo.

Luiz Bersou

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