12 de julho de 2011

CORRUPÇÃO, O TEMPO QUE ESTAMOS PERDENDO E GOVERNANÇA CORPORATIVA

Quando discutimos com estrategistas a evolução dos cenários nos damos conta de uma falta de percepção que chama a atenção. Estamos entrando de forma praticamente definitiva no que os especialistas chamam de “Economia de Baixo Carbono”. Economia de baixo carbono tem uma vertente absolutamente importante que é a “Economia de Baixa Energia”. Economia de Baixo Carbono e Economia de Baixa Energia são fundamentos de sobrevivência.

Tudo o que fazemos terão que se acomodar nos fundamentos do baixo carbono e da baixa energia. Essa afirmação quer dizer também que tudo vai mudar. Nada será como foi até agora. Importante, fazer o que tem que ser feito vai custar muito e vai dar muito trabalho.

Esse desafio gigantesco ainda não foi percebido pela maioria das sociedades. No livro “Colapso” de Jared Diamond aprendemos como sociedades, nações, países morrem. Uma das razões é a falta de objetivos, visão do que se passa e falta de luta. A falta da boa luta onde se busca o conceito do “Logos”, da harmonia, que nos vem desde Heráclito da antiga Grécia.

Nesse momento em que fundamentos de economia de sociedade precisam ser refeitos, a sociedade política brasileira tem a fantástica capacidade de se interessar pelo inútil e pelo que lhe é conveniente. Será que podemos imaginar o risco que corremos com o modelo de gestão de sociedade que temos?

SOCIEDADE, REPRESENTATIVIDADE, VELOCIDADE DAS LIDERANÇAS E ESTRUTURAS DE GOVERNO

É da história da humanidade a convivência de sociedades com lideranças e estruturas de governo. O aumento da população, da produção, das necessidades de educação, do desenvolvimento tecnológico, dos custos sociais, as guerras, nos levaram a aceitar o aumento de estruturas de governo como solução da evolução do simples, as estruturas primitivas da sociedade, para o complexo, o mundo de hoje.

Boa parte da evolução que se registra na história, foi fruto da aceitação social como resposta a lideranças estabelecidas e estadistas que efetivamente buscavam o bom para os seus cidadãos. A sociedade sempre soube discernir, ao longo do tempo, o que é bom. O colapso de tantas ditaduras e governantes errados mostra o poder da sociedade quando ela se manifesta. Quando ela se manifesta. As vezes isso demora um bocado e aí vem o que nos conta o livro “Colapso”. Será que temos tempo a perder?

No caso brasileiro, ao longo dos anos as lideranças se esvaem de conteúdo e qualidade e as estruturas de governo incapazes se tornam cada vez maiores, sem que isso nada signifique em termos de benefício para a sociedade.

Credita-se a Felipe González, então primeiro ministro de Espanha, uma frase sábia durante a assinatura do Pacto de Moncloa, aquele que propiciou o grande progresso econômico pelo qual passou a Espanha durante muitos anos. O papel do estadista é o de ter mais velocidade do que a sociedade. É sua missão correr na frente e preparar os caminhos para que a sociedade marche por eles, livre, soberana, tranquila em seu progresso social e econômico.

O fundamento de correr na frente e preparar os caminhos que são de interesse da sociedade, nunca foi cumprido no Brasil. A sociedade tem mais velocidade do que os governantes e esses simplesmente correm atrás porque ganham com isso.

REPRESENTATIVIDADE E INTERMEDIAÇÃO IMPOSTA

Um fenômeno pernicioso sempre aconteceu. Os fundamentos da intermediação imposta sempre estiveram presentes na história da humanidade. Queres falar com os deuses? Deves primeiro falar com os sacerdotes. Os sacerdotes sempre zelaram muito bem por essa reserva de poder e mais tarde, de mercado. De uma certa forma, pode-se suspeitar que foram o vetor inicial de muitos processos de intermediação imposta que se desenvolveram na humanidade.

O viés da intermediação caminhou em muitas direções. Estruturações de governos e acesso a governos. Acesso à justiça. Acesso á liberdade. Acesso ao conhecimento. Acesso ao livre arbítrio. Do princípio inicial de representatividade da sociedade, estar a serviço da sociedade, rapidamente virou-se essa página e assistimos a busca da supremacia dos governos sobre a sociedade. Os governos se posicionam acima da sociedade e os partidos agora estão se posicionamento acima dos governos.

Verifica-se então que aos custos clássicos de estruturas de governo voltadas para os processos de representatividade da sociedade são agora acrescidos os custos da intermediação imposta . O que mais se faz no Brasil de hoje é criar dificuldades para se vender facilidades.

Verifica-se então que velocidade, que deve ser fundamento de governo, é decorrência de planejamento e nesse jogo não cabem estruturas pesadas e burocráticas. Passamos então a um embate em que a sociedade quer planejamento e velocidade e os estamentos de governo querem justamente o contrário. A paralisia de ação é justamente o pretexto para mais impostos e mais estruturas gordas, inchadas e felizes.

Não é a mesma felicidade do povo e do cidadão consciente e válido. Pode ser a felicidade das massas de manobra. Em texto extremamente atual, “Psicologia das Massas – Freud – Nota de Le Bon - 1920-1923” notamos frase que explica muito bem o que vem acontecendo conosco: a inibição coletiva da capacidade intelectual das massas e elevação do grau de afetividade da massa por seus líderes. Decorre a total incapacidade de discernir o que é bom e o que é mau.

Nisso tudo, vem mais uma vez a pergunta: temos tempo a perder?

INTERMEDIAÇÃO IMPOSTA E PASSIVIDADE SOCIAL

A luta pela terra, pela comida escassa sempre gerou estratos sociais que lutam pelos seus direitos. No Brasil os direitos sempre foram objeto de negociação e não de luta.

Vivemos em uma sociedade em que os corruptos praticam a democracia que lhes dá todos os direitos tortos. Os outros, o que lutam pela harmonia e ética são obrigados a conviver com a democracia que lhes nega todos os direitos. O autoritarismo do estado chegou a um ponto tal que a sociedade é tolhida em todas as iniciativas úteis que tente desenvolver. Recentemente recebi de um amigo a informação de empresário gaúcho, que foi multado por dar ensino para seus empregados e nessa inciativa desagradou alguns tecnocratas.

Será que não está na hora de aplicarmos tolerância zero em nossos governantes? Todos eles, sem exceção? Uns pela corrupção e outros pela passividade em relação aos seus grandes amigos? Será que não está na hora de parar de dizer que os acordos políticos tortos devem prevalecer pois são fundamentos democracia? Mais uma mentira de Papai Noel?

GOVERNANÇA CORPORATIVA E RESPOSTA DA SOCIEDADE

Tema da moda, objetivo da atenção de centenas de empresas, milhares de horas de aula para ensinar o que é. Um dos temas centrais da Governança Corporativa é a transparência. Se o fundamento transparência vale para as grandes empresas, por que não vale para os governantes, todos, até os omissos?

Criticas aos Tribunais de Conta sempre estiveram presentes nos noticiários, sempre da pior maneira. Como transparência é algo que é fácil de pedir, nem mesmo os muitos políticos famosos pela corrupção e no auge do poder, podem condenar a questão da transparência. Por que não começar por aí?

Será que não temos um grande tema pela frente?

Luiz Bersou


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