8 de junho de 2010

A FORMAÇÃO DO HOMEM

A questão da qualidade da nossa sociedade e sua capacidade de construir o futuro que queremos está cada vez mais merecendo atenção e preocupação de todos. Existem aqueles que acham que tudo vai dar certo e aqueles que são mais conservadores e mostram preocupações por várias razões. Diante desta divergência cabe a pergunta: Estamos construindo as bases para o futuro que queremos? Que bases são estas?

Na Grécia antiga, a educação como forma de construir o homem virtuoso era o centro das preocupações da sociedade. O tema “Paidéia” (Werner Jaeger), conjunto de conceitos ligados á civilização, cultura, tradição, literatura e educação tinha foco na formação de um elevado tipo de Homem. O Homem Virtuoso. Segundo Heródoto, a idéia da educação representava todo o sentido do esforço humano.


Segundo os Gregos, a educação não é um esforço individual. A tarefa da Educação pertence por essência á comunidade, é dever de todos, obrigação de todos, pois ela é o resultado da consciência viva que rege a sociedade virtuosa. A sociedade virtuosa é aquela que gera os verdadeiros homens, o ser completo. O caminho da perfeição era e é o caminho da educação. O caminho da perfeição era o da vida em sociedade, vida em comunidade, em família, nestes tempos atuais, vida em equipe. Vida virtuosa.

O relato histórico nos conta que os Espartanos foram grandes guerreiros. Sutiliza: a unidade mínima do exercito espartano não era o soldado. Era uma dupla de soldados. Ataque e defesa. Equipe.

Da virtude vem o espírito que era designado como a região da verdade e belezas eternas. Foi nesta atmosfera que os gregos nos deixaram o seu legado, tão acima das nossas atuais percepções do que deve ser a vida em sociedade.

Deste legado nos chegam acervos que nos surpreendem: a visão do “legislador – educador”, questão impensável no momento atual de nossa sociedade, a visão “educação – honra”, deixada nos textos de Homero, Platão e Aristóteles, a visão “trabalho – honra” deixada nos textos de Hesíodo, “medicina – honra” deixada por Hipócrates e a bravura guerreira expressa nos termos de “astúcia – prudência”.

Deste passado nos vem a expressão “Talòs”, estar com os deuses. Era a preocupação dos mestres que seus alunos vivessem com os deuses. De “Talòs” nos vieram as expressões “talento” e “vocação”. Talento e vocação na relação “trabalho – honra”, mas também talento e vocação na relação “homem – virtude – grupo – sociedade - equipe”.

Tudo isso é passado.

No âmbito da visão moderna, em especial no Brasil, veio a dissolução e destruição das fundações da sociedade virtuosa. Veio então a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade de qualquer ação educativa.

De um momento histórico em que o centro das preocupações da sociedade era a educação, vivemos a nossa realidade do dia a dia, onde educação não é prioridade e pior do que isso, a busca da construção do Homem Virtuoso pela educação nem é entendida como algo necessário e bom para qualquer sociedade. Nem é entendido também que na construção do Homem Virtuoso, a educação representa todo o sentido do esforço humano. Deveria ser este o nosso grande legado.

Sociedades focadas no sucesso econômico não se consolidam na ausência dos fundamentos da educação como foco estratégico. Sociedades focadas na educação, na gestão do conhecimento, criam os fundamentos estratégicos que lhes permitem aspirar ao sucesso econômico. O Brasil não aprendeu ainda esta lição.

Registro histórico interessante: consta que o sucesso econômico dos países anglo-saxônicos se deveria ao fato de que a questão do lucro era algo bem vindo pelas igrejas reformistas, o que não acontece com as igrejas ligadas ao catolicismo.

Registros mais recentes nos indicam que uma das bases do sucesso econômico esteve no fato que a indução da leitura da Bíblia levou os crentes reformistas ao poder do conhecimento e sua disseminação. Aprender a ler com a Bíblia gerou o sucesso econômico, não somente a visão de que lucro é bom. Educação gerou sucesso econômico.

Raramente conhecimento gera resultados. Conhecimento estruturado e sistematizado pode gerar resultados. Como paliativo à falta do conhecimento, falta de recursos humanos válidos que possam atender ás necessidades das empresas, aceleramos treinamentos de ordem técnica como questão necessária para a busca do sucesso econômico. Treinamentos de ordem técnica não são suficientes para estruturar e sistematizar conhecimento.

A pergunta que fazemos, recordando a expressão “Talòs”, é: Esses técnicos estarão com os deuses? Ou serão apenas arremedos dos homens virtuosos, os quais tanta falta fazem à nossa sociedade. Haverá realmente sucesso econômico? Os homens que comprarão os nossos produtos serão virtuosos ou apenas pequenos zumbis? Como a construção do homem virtuoso se propagará dentro de nossa sociedade?

Em vez de criarmos tecidos sociais convergentes que estruturam sociedades e sucesso econômico, estamos criando colchas de retalhos que não são convergentes e não estruturam sociedades. Voltando ao primeiro parágrafo, concluímos que não estamos construindo as bases para o futuro que queremos.

O que precisamos fazer em termos de educação o povo grego já fez. Não devemos ter vergonha de recriar a roda. Pena que estejamos perdendo tanto tempo. Acho que todos aqueles que lutam pela educação deveriam ler Paidéia. E mudar tudo!



Luiz Bersou

3 comentários:

Adriana Bersou Ruão disse...

Pai,
A sua cabeça não pára, né?
Gostei muito do texto.
Você é um homem de grande TALENTO.
Adri

Fabio Barnes disse...

Bersou,
treinar não é educar. Treinamos o trabalhador, o médico, o professor, o soldado e o legislador. Agora educar significa dotar o homem com virtudes: honra, ética, honestidade e principalmente o saber viver em sociedade/grupo/equipe, o saber compartilhar para multiplicar conhecimento e atingir o bem-estar da comunidade.
Do que adianta o sucesso econômico se este benefício não for compartilhado (não igualmente, mas condignamente)?
Só uma sociedade virtuosa composta de homens virtuosos pode almejar o bem-estar de cada um dos seus membros.
Homens virtuosos são aqueles treinados para exercer sua função no grupo corretamente e educados para compartilhar, doar e evoluir para e junto com o grupo.
Eu tentei fazer a minha parte, uma pequena ação mas que pode ser um diferencial: preferi que minhas filhas fossem "educadas" para serem cidadãs em uma escola que privilegia o convívio comunitário e o aprendizado de valores pessoais, ao invés de em uma escola focada em vestibular. Acredito que elas terão mais sucesso na vida em todos os aspectos, não só financeiro, com esta formação.
Viva os gregos!!
Parabens Bersou.

Anônimo disse...

Adorei ler seu artigo! É animador ver que existem pessoas que valorizam a formação de verdadeiros cidadãos, numa época em que a maioria é imediatista e acredita que seus filhos devem ser felizes, não importando os processos e caminhos para a obtenção dessa "felicidade".
É admirável também que como consultor você tenha a coragem e firmeza de afirmar que o sucesso fiananceiro do profissional e/ou lucro nas empresas não pode ser um fim, e sim uma consequencia de um trabalho bem feito, ou seja, um teste de validade do négocio.

Parabéns!

Cinia R. Pimentel Santos