Estamos vivendo um momento muito interessante. Aquele em que nos defrontamos com diversas empresas adormecidas.
Empresas adormecidas que estão morrendo. Pior, abdicaram da vida, esperam milagres e ficam sentados esperando a morte. Elas têm mais medo de enfrentar a vida do que enfrentar a morte. Enfrentar a vida é para já. Enfrentar a morte é para depois. O depois é mais interessante do que o já.
Perguntamos as razões, nos vem a resposta. A nossa sociedade vive deitada eternamente em berço esplendido, como bem canta e glorifica o nosso hino. Sempre esteve adormecida. Nunca soube o que é lutar de verdade.
Se lermos o discurso do presidente da Costa Rica em recente evento, entramos direto na mensagem dos livros “Colapso” e “Armas, Germes e Aço” (sociedades escolhem o sucesso e o fracasso - sociedades conscientes escolhem o sucesso e o futuro, as outras morem) de Jared Diamond. Como o presidente da Costa Rica nos mostra, já tivemos no passado, Brasil e América Latina, mais condições de construir a riqueza, do que as nações que hoje lideram o mundo. Apenas não quisemos. Não tivemos consciência do nosso momento. E os tribunais da ignorância nos dizem a cada dia que a culpa é dos outros. Somos perseguidos, somos explorados.
Ainda em termos de sociedade, por tudo o que nos é dado conhecer, estamos observando de forma espetacular o texto atribuído a Goethe: temos o privilégio de assistir o impacto avassalador da ignorância com poder em ação. E nós não reagimos! Não temos poder e não procuramos ter poder! Dá trabalho! Requer mobilização!
A esse respeito lembro-me da reação de um filho meu que voltava do extremo sul da Argentina e passou por Buenos Aires. Perguntei: o que mais te impressionou em Buenos Aires? Ele respondeu: as marcas dos panelaços. Havia protestos, havia luta.
E não reagimos por que não é na nossa geração que vamos sentir os efeitos de nossa dormência. Como diz a mensagem de Jared a partir de um estudo espetacular, as sociedades que se abstém de escolher o seu futuro morrem. Não veremos esta morte, mas nossos filhos a verão. Adormecidos. Se tudo isso acontece na sociedade, é natural que as empresas também adormeçam.
Observando o campo “empresas” e procurando entender o estamento cultural que nossa sociedade carreia para os cenários, mercados, clientes, concorrentes e o estado de luta que tudo isso representa, buscamos apoio na mensagem do livro “As Leis do Poder” (movimento e ação consistente só acontecem quando coexistem objetivos, poder e princípios - que são função de estados de confiança) de Richard Kock.
A essa mensagem de Richard Kock, juntamos as palavras do nosso colega do grupo Práxis, o sociólogo Esdras Borges Costa: só existem princípios onde há luta! A boa luta.
Entramos então na observação do fenômeno que encontramos de forma consistente em nossos longos anos de trabalho. A falta de diálogo nas nossas empresas. A falta de diálogo nas hierarquias das empresas. A falta de luta! É impressionante como cada um cuida da sua árvore e ninguém cuida da floresta. Tudo isso por que: não queremos nos enfrentar. Não pode haver luta! Se for MST pode.
Indo mais a fundo na questão da falta de diálogo, observamos que esta falta na verdade nada mais é do que um mecanismos de proteção dos colaboradores presentes.
Este mecanismo existe por que a empresa não definiu a sua teoria de funcionamento, o seu jogo estratégico, mercadológico, operacional de capital e cultural. Não temos então a luta para aperfeiçoar a nossa teoria de empresa, mas a luta de cada um por si.
Assim como a nossa sociedade não define o caminho que quer seguir, nossas empresas também não definem a contendo os seus fundamentos de trabalho. Sem teoria de funcionamento, não pode existir sincronia mental entre os colaboradores da empresa. Lembro-me então de uma frase clássica: tudo pode mudar desde que nada mude.
O que vemos então? Empresas que estão perdendo, equipes que não conversam entre si, análises que ficam incompletas, pois a solução aparente mais fácil, como sempre, é arranjar mais dinheiro.
Buscamos então o apoio da mensagem de recente evento que reuniu os grandes aplicadores de capital, bancos e grandes empresários (estava presente como convidado o nosso colega e amigo Walter Lerner - professor da FGV): a taxa do Banco Central pode cair, mas não vai haver dinheiro fácil e barato.
Voltamos então á nossa mensagem de catequese diária. Aprendam a viver sem os bancos. Totalmente possível. É só querer! Abram mais contatos diretos com os colaboradores da empresa. Vocês não precisam de grupos de colaboradores. Vocês precisam de times que lutam e estão sincronizados mentalmente entre si.
Costuma dar certo.
Luiz Bersou